Em algumas superquadras, portões, cancelas e correntes agridem o projeto urbanístico reconhecido mundialmente como patrimônio cultural. A privatização do espaço público acontece em quadras da Asa Sul, calcada em uma particularidade de alguns blocos residenciais do Plano Piloto: o acesso ao estacionamento por baixo dos pilotis dos prédios. Escondendo-se atrás de justificativas como segurança ou com o objetivo de destinar mais vagas aos moradores, muitos condomínios resolveram cercar as vagas que deveriam servir a todos. Na 206 Sul, um detalhe do projeto dos blocos facilita a irregularidade. Todos os prédios da quadra possuem estacionamentos cobertos grudados aos pilotis. São puxadinhos que foram previstos na época da construção da cidade. Hoje, o acesso ao estacionamento público de blocos como o A e o J se dá por dentro dessas garagens - por onde só é permitida a passagem de moradores.
No Bloco J, onde a situação é quase igual, não há sequer um acesso às vagas públicas. Para chegar a elas, os carros dos moradores passam pela garagem privada, pelos pilotis e seguem por cima de pedaços de concreto colocados na área verde. Na mesma quadra, um largo estacionamento simplesmente não existe mais. Construído entre o prédio que abriga os blocos G e H e o prédio do Bloco K, o espaço virou uma enorme praça de concreto.
Nos blocos E e B da 206, não é necessário passar pelo estacionamento privado para chegar ao público, mas enormes portões instalados no piso do piloti cumprem o papel de restringir o acesso. Eles fechariam somente no fim da tarde, segundo informações de um dos porteiros.
A questão dos bares é apontada pelo chefe da divisão técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no DF, Maurício Pinheiro, como um dos principais motivos para a resistência. "Já conversamos com moradores onde acontece esse cercamento do estacionamento e eles reclamam que há bares grandes na entrequadra e que isso acabaria com as vagas", relata. "Mas esse não é um argumento válido. O problema de vagas em Brasília é crônico e todo mundo sabe. Se isso fosse solução, todo mundo iria sair fechando estacionamentos públicos por aí", afirma ele, que está preparando um estudo para apresentar à Administração de Brasília com soluções para o problema.
A Agência de Fiscalização do DF (Agefis) prevê em seu cronograma para os próximos três meses operações de combate ao bloqueio de estacionamentos. O órgão garante que já notificou todos os condomínios da Asa Sul que cometeram a irregularidade. Alguns já foram multados e receberam ordem para derrubar a construção que impede a passagem (a assessoria de comunicação não soube precisar quais). A multa padrão para esse tipo de situação é de R$ 451,00, valor que dobra em caso de reincidência. Quem desrespeita a ordem de derrubada é obrigado a pagar os custos da operação.
Fonte: Correio Braziliense (DF), 11 de abril de 2009