Parking News

Jorge Hori *

Muito longe do Centro, expatriados norte-americanos se instalaram entre a linha do bonde e o rio, criando um bairro, com casas típicas da então classe média, caracterizadas pelos paulistanos como "casas germinadas" (uma corruptela de geminadas). Era um dos principais investimentos realizados por pequenos empreiteiros que construíam uma fileira de casas para aluguel. Como investimento próprio ou de terceiros.
Assim surgiu e se desenvolveu o Brooklin paulista.
Com a reversão do rio Pinheiros e a sua retificação, surgiram as Marginais (nos dois lados) e o dreno do Brooklin, paralelo ao rio e à marginal. O dreno servia para levar as águas do córrego Águas Espraiadas para depois da Usina Traição, uma vez que o rio havia ficado acima da cota da foz do córrego. O que promoveria o refluxo e os alagamentos.
Em torno do dreno abriu-se uma avenida que posteriormente recebeu a denominação de um ilustre engenheiro e urbanista, Luis Carlos Berrini. Onde o arquiteto Carlos Bratke se aventurou a empreender edifícios de escritórios, como alternativa à Faria Lima, que já começava a apresentar sinais de saturação. Depois de ser uma alternativa de fuga do Centro tradicional e da Avenida Paulista.
Com o afluxo de trabalhadores aos escritórios que foram se instalando na região da Berrini, um conjunto de restaurantes, comércio e serviços se instalou, ocupando os imóveis originalmente residenciais, mudando o uso do solo.
A dinâmica mudou de direção. O maior dinamismo passou a ocorrer na então periferia, que por essa condição dispunha de grandes áreas desocupadas, se espraiando agora em direção à Avenida Santo Amaro. Essa continuou sendo o principal corredor do transporte coletivo, usado pelos trabalhadores da região da Berrini que não dispunham de carro.
Por outro lado, a área mais próxima à Avenida passou a ser ocupada por edifícios residenciais.
O acesso de grande parte dos trabalhadores da Berrini e arredores passou a ser de carro, dada a insuficiência do transporte coletivo, com a busca de vagas públicas gratuitas.
Para conseguir uma vaga gratuita, algumas pessoas passaram a chegar duas horas antes de iniciar o seu expediente ou andar mais de 200 m até seu destino.
Com a redução das vagas gratuitas, para encontrar uma, terão de madrugar e se dispor a andar muito mais.
A medida adotada pela Prefeitura Municipal pode resultar na involução do desenvolvimento da região, com a transferência para outros locais.
Poderá ser para a Nova Luz ou Barra Funda, como gostariam as autoridades municipais, ou para outra região, com a repetição dos mesmos problemas.
Estacionamento não é uma demanda primária. Mas uma demanda derivada de quem decidiu se instalar na região - dos decisores, dos seus clientes e dos funcionários que têm emprego e querem mantê-lo. São os seguidores.
Para os primeiros, pagar ou não o valor do estacionamento faz parte da sua opção de localização. Na Berrini, ao contrário do Centro, da Avenida Paulista e mesmo da parte antiga da Faria Lima, há uma razoável disponibilidade de vagas em estacionamentos pagos.
Para os decisores de grandes empresas as restrições melhoram o seu acesso. Haverá menos carros na área, haverá mais fluidez e, passada uma fase inicial de indecisões, poderão alcançar de forma mais fácil as suas vagas pagas (direta ou indiretamente).
Para o atendimento dos clientes, a disponibilidade de vagas rotativas pode ser uma solução suficiente.
O crítico é para os empregados, que terão restrições maiores de acesso, seja por carro ou por transporte coletivo (muito escasso). Com a proibição dos fretados, a situação irá piorar.
Eles terão de se mudar para local mais próximo da região, para ter acesso a pé para o local de trabalho. O problema é quando a mudança inclui a família, cujas atividades de trabalho, de educação e outras envolvem diferentes deslocamentos.
Ou então terão de mudar de emprego. Para locais onde haja maior acessibilidade. Isso pode valer para trabalhadores menos qualificados.
Para os mais qualificados, as oportunidades de melhor remuneração estariam na região.
A restrição dos fretados pode ter uma repercussão maior que a redução das vagas.
Uma grande parte dos usuários dos fretados não irá mudar o lugar de emprego, substituirá o fretado pelo carro, aumentando a frequência de carros e a demanda por estacionamentos pagos.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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