Parking News

De segunda a sexta, o maître Antônio Gomes Paiva termina suas noites de sono dentro do carro, estacionado nas proximidades da Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, Zona Oeste de São Paulo. Ele só precisa estar no edifício onde trabalha às 7h30, mas estaciona diariamente antes das 6h. "Se não for assim, eu perco a vaga", explica.
Assim como Paiva, dezenas de motoristas que trabalham na região trocam o quentinho da cama por uma vaga gratuita para o carro. Às 7h, já não há mais onde parar no meio-fio das ruas entre a Berrini e a marginal Pinheiros. Às 9h30, muitos estacionamentos estão lotados, relata a Folha de S. Paulo.
Às 10h30, só sobram vagas a mais de quatro quarteirões da avenida e do lado oposto ao da marginal - onde, segundo frequentadores, é comum o furto de veículos. "É fácil ver gente dormindo aqui", afirma o produtor Mário Marcos. "O luxo é uma falsa imagem que a Avenida Berrini passa", afirma.
Sobram poucas opções para quem não vai de carro. Há apenas uma linha de trem, que não faz conexão com o metrô, e 20 linhas de ônibus, menos da metade das 48 que passam pela Avenida Paulista, por exemplo (e que ainda tem metrô).
O analista de importação Michel Costamanho, que às 6h30 já está guardando lugar para o carro e só vai trabalhar às 8h, afirma que fica dentro do veículo para não ter de começar a trabalhar antes da hora. "Trago jornal, durmo. Não tenho medo (de assalto)", diz.
Mas há quem tenha. A analista financeira Paula Juscelina estaciona às 6h30 para trabalhar às 9h, mas prefere sair para tomar um café ou começar a trabalhar antes da hora. "Já assaltaram dois, um de manhã e um à tarde. Não fico no carro de jeito nenhum."
O lado mais perigoso da Berrini, segundo quem trabalha por ali, é o que fica do lado oposto à marginal Pinheiros, principalmente nos arredores da Rua Alessandro Volta, onde é comum o furto de veículos especialmente no final do dia.
Os dorminhocos se concentram nas ruas mais próximas à marginal, mais monitoradas pelos seguranças que trabalham nos prédios dali.
O produtor Mário Marcos, há quatro meses trabalhando no local, diz não ter condições para pagar o preço cobrado pelos estacionamentos. Onde trabalhava antes, perto da ponte do Morumbi, a alguns quarteirões dali, ele gastava R$ 80,00 mensais - na Berrini, declara não ter achado vaga por menos de R$ 200,00 por mês.
O estacionamento onde o manobrista Fernando Nunes trabalha foi inaugurado recentemente e já está lotado. "Em três dias, vendi 150 vagas mensais", afirma, acrescentando que a capacidade é para 120 vagas, mas nem todo mundo vem todos os dias. A mensalidade, de R$ 200,00, foi uma das mais baixas encontradas pela reportagem da Folha, segundo a qual os valores chegam a R$ 350,00.
Os estacionamentos da região restringem o número de usuários mensais porque, segundo os seus administradores, é menos lucrativo cobrar por mês do que por hora. A Folha não achou quem fizesse um preço fechado para um dia de carro estacionado; em média, a primeira hora custa R$ 8,00, e as demais, R$ 3,00 cada uma.
O maître Paiva, que trabalha no restaurante do Plaza Centenário, prédio apelidado de "Robocop" e ícone da região, afirma ter esperado seis meses para se tornar usuário mensal de um estacionamento. Mas não conseguiu vaga. "Desisti. Prefiro dormir no carro."
Transporte coletivo não acompanhou o boom de escritórios
A falta de opções de transporte coletivo - que se resumem a uma linha de trem, nenhum metrô e só 20 linhas de ônibus - e o boom de novos escritórios, onde circulam funcionários e clientes de diversas regiões, mostram que faltou planejamento urbano para acomodar as pessoas que trabalham na região da Berrini. "Onde era possível fazer prédios, foram fazendo, com o menor número possível de garagens", diz o consultor de transportes Luiz Célio Bottura.
"A mesma exigência que é feita para a Berrini é feita, por exemplo, para Itaquera. A lei é a mesma, mas a Berrini tem mais demanda", diz o professor da Poli-USP e consultor de transportes Jaime Waisman. Enquanto a Berrini é repleta de escritórios, as residências de Itaquera fazem do local dormitório para quem trabalha em outras áreas da cidade. A prefeitura exige que cada prédio construído tenha um certo número de vagas, mas o cálculo é feito com base na área útil do prédio, e não na quantidade de pessoas que ele atrai.
A Berrini é servida pela linha 9-esmeralda da CPTM, que, com 31,8 km de extensão, liga Grajaú, no extremo sul, a Osasco, sem integração com metrô. "O trem é abarrotado, misericórdia", diz Juliana Caccuri, que prefere chegar com seu carro às 6h20, estacionar na rua e esperar até as 8h30, quando inicia seu expediente.
"O cidadão de alta renda é muito refratário ao transporte público, é uma questão de preconceito", diz Jaime Waisman, da Poli-USP, admitindo que a má qualidade do sistema também contribui para isso. Segundo os especialistas, o fato de as pessoas ocuparem uma vaga durante o dia inteiro é uma forma de privatização do espaço público, que cria obstáculo ao fluxo das vias. Para eles, a Zona Azul seria uma alternativa para que mais carros estacionassem ao longo do dia.
Fonte: Folha de S. Paulo, 2 de março de 2009

Categoria: Fique por Dentro


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