A equipe de reportagem do Jornal Nacional foi às ruas para testar como se comportam os manobristas. Este tipo de serviço custa, em média, R$ 10.
Dentro do carro havia um urso de pelúcia, uma caixa de bombons, canetas, R$ 20 em moedas, uma sacola com alguns objetos e câmeras escondidas.
Em um bairro boêmio, um manobrista pegou as moedas enquanto dirigia. No mesmo bairro, em três dias diferentes, a cena se repetiu.
Em outro local aconteceu algo pior: o manobrista terceirizou o serviço e deu as chaves do carro para um guardador de rua. O flanelinha entrou no carro e mexeu em tudo. Pouco depois, saiu, mas não foi embora. A luz acesa no painel indicava que ele também abriu a porta traseira e o porta-malas.
Em um estacionamento na região central de São Paulo, o funcionário foi direto ao saquinho de moedas. Em um hospital, outro manobrista estaciona o carro e R$ 2,50 vão embora.
No shopping, o funcionário entra no carro e não se contém: "Nossa! Não acredito que eu vou comer um bombom", ele falou. Depois de estacionar, ainda disse: "Caraca, vou tirar esse bombom do sol". Ele retirou o chocolate que queria, mudou a caixa de lugar e ainda pegou umas moedinhas.
Em outro shopping, o carro é entregue ao serviço de valet de um restaurante. O primeiro motorista levou o automóvel para o estacionamento e foi atraído pelo dinheiro. Na saída, outro motorista foi buscar o veículo e fez a mesma coisa.
Para receber a licença da prefeitura, as empresas de valet teriam que comprovar que levariam os carros para estacionamento com seguro contra roubo, incêndio ou acidentes. Ao contratar os serviços, os motoristas poderiam ir aos compromissos sem a preocupação de deixar os carros na rua, o que é cada vez mais difícil em São Paulo.
Ao perceber que algo sumiu, o dono do veículo deve denunciar. "É crime de furto e ele responde. Ele pode inclusive ser autuado em flagrante e levado para a prisão", declarou o delegado Adalberto Barbosa.
De dez locais que a equipe visitou, em oito houve furtos. Quem pega dinheiro ou objetos, mesmo que sejam de pequeno valor, está cometendo um crime.
Esse não é um problema exclusivo de São Paulo. O jornalismo da Globo Minas flagrou muitas irregularidades no serviço dos guardadores de carros.
O manobrista de um restaurante promete deixar o carro em local sem risco de multa. Mas estaciona em uma área de carga e descarga. Isso vale multa de R$ 53 e três pontos na carteira.
Em outro local, carros de clientes estão em fila dupla. E, em outras duas tentativas, o carro da equipe da TV Globo foi estacionado em frente a garagens.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes informou que os estabelecimentos não são obrigados a ter manobrista. Mas quem oferece o serviço tem de arcar com a segurança do bem do consumidor.
Fonte: Jornal Nacional/Hoje (TV Globo), 16 de junho de 2011
Comentário de Marcelo Gait, presidente do SINDEPARK:
Eu vi a matéria e as imagens que considero revoltantes, mas acredito que, nesses casos, isso ocorreu basicamente em serviços de valets, ainda que dentro de estabelecimentos comerciais. O SINDEPARK faz gestão de garagens em Edifícios Comerciais, Terrenos e alguns tipos de estabelecimentos como estes da reportagem. Porém, isto também ocorre com empresas afiliadas, só que numa esfera muito menos abrangente, pois organizamos e oferecemos aos nossos associados seminários e treinamentos, demonstrando ações, procedimentos e, basicamente, conscientizando nossos manobristas sobre a importância e a responsabilidade de suas funções.
A lição que tiramos é que as empresas devem se preocupar em selecionar, contratar e treinar melhor seus manobristas e, principalmente, que os contratantes devem estar mais atentos com relação às empresas que estão contratando para seus empreendimentos.
Como em todo setor de atividade, existem as boas e más empresas, e eu alerto para o fato de que está na hora também de o usuário tentar distinguir melhor essas empresas, prestar mais atenção ao utilizar seus serviços, perguntar o nome da empresa, chamar o manobrista pelo nome, deixando-o perceber que você sabe com quem deixou seu veículo, questionar se o estabelecimento tem algum tipo de serviço guarda-valores (algumas empresas oferecem este serviço para guarda de laptop, GPS, celular, dinheiro), onde o veículo será estacionado, se na rua ou em alguma garagem... Estas perguntas podem não resolver o problema, mas deixarão o manobrista mais preocupado com suas atitudes...
Trocando em miúdos, tal qual a escolha da marca de um eletrodoméstico, veículo, ou de um produto, os serviços também precisam ser conhecidos pelo nome e isto não ocorre... Você compraria, por exemplo, um veículo de uma marca desconhecida? Por que, então, deixá-lo em qualquer empresa para estacioná-lo? Como qualquer outro produto, a empresa que presta o serviço tem que ser conhecida por suas ações, e mesmo assim, infelizmente, ainda estaremos à mercê da idoneidade dos indivíduos.