Entre 2005 e 2010, o número de multas de trânsito em São Paulo praticamente dobrou. No ano passado, foram 6,97 milhões, um total 96% superior ao registrado seis anos antes. O aumento do rigor na fiscalização não leva, porém, à redução do número de acidentes nas ruas da capital. Pelo contrário. Embora lombadas eletrônicas e radares se multipliquem nas ruas - também para flagrar desrespeito ao rodízio e ao limite de velocidade - e cresça o número de agentes de trânsito da CET, que deixam de orientar o motorista para preencher seus blocos de multas, a civilidade no trânsito se reduz e a violência aumenta. Em 2010, houve 26.370 acidentes de trânsito na capital, que mataram 1.357 pessoas - 161 a mais do que as 1.196 vítimas de homicídios dolosos registrados no mesmo período.
A verdadeira intenção do governo municipal ao decidir pela troca dos radares é, portanto, a de aumentar a arrecadação, opina o jornal Estado de S. Paulo. Afinal, um número expressivo de motoristas se livrou das multas de trânsito em 2010, principalmente por causa da falha no processamento de autuações registradas por radares. Os atuais equipamentos produzem imagens de baixa resolução, o que provoca o descarte de pelo menos metade das fotos que registram.
Se a administração municipal estivesse interessada em aumentar a segurança do trânsito e não em multar mais, em vez de investir em radares mais modernos, promoveria a educação dos motoristas e pedestres e melhoraria a engenharia de tráfego. O correto é tratar o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) como instrumento principalmente educativo e, por isso, a boa convivência no trânsito deveria fazer parte da formação das crianças, dos jovens e dos motoristas.
O trânsito de São Paulo fere uma pessoa a cada 20 minutos e mata uma a cada 13 horas. Foram 228 mortos entre janeiro e abril deste ano e mais de 8,3 mil feridos. São números que demonstram claramente que a estratégia da punição ampla, descolada da educação e da engenharia de tráfego, não é a melhor maneira de enfrentar o problema.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 18 de junho de 2011