É essencial saber, no entanto, que fomentar a bicicleta como meio de deslocamento está na agenda de muitos profissionais e ativistas nas grandes cidades brasileiras. As ações ainda engatinham, analisa a Revista Sustenta, mas já são um primeiro passo para um trânsito compartilhado. Com menos poluição e mais tolerante. Confira alguns projetos e movimentos que têm feito a diferença para mudar o paradigma da mobilidade no Brasil.
As rotas não motorizadas
No primeiro dia de setembro, a prefeitura de São Paulo inaugurou a Ciclofaixa, uma pista de 5 km de extensão pintada no asfalto que liga os parques do Ibirapuera, do Povo e das Bicicletas somente aos domingos, das 7h às 14h. Durante o período, os automóveis devem prestar atenção para não invadir a faixa dedicada aos ciclistas. Ainda assim, a iniciativa é voltada para a bicicleta como lazer, e não transporte. Não é o mesmo que se pode dizer da ciclovia de 22 km que será inaugurada pelo governo do Estado na Marginal Pinheiros, entre a pista expressa e o rio. A trilha servirá aos ciclistas para se locomoverem em segurança em um eixo viário plano e importante da cidade que conecta a zona sul à oeste. Embora a maior parte da população fique sabendo de iniciativas como a Ciclofaixa e a ciclovia da Marginal apenas depois de sua abertura ao público, existe um forte trabalho de pressão e cooperação entre governo, ONGs e sociedade civil para integrar a bicicleta ao trânsito urbano. Exemplo disso é o Institute for Transportation and Development Policy (ITDP), organização presente em mais de 12 países trabalhando na promoção de transportes sustentáveis, ou seja, públicos e não motorizados. Em São Paulo, o instituto assessora a prefeitura para diversos aspectos da política cicloviária, para a instalação de estacionamentos para as bicicletas e também na construção de uma ciclovia de 15 km no bairro do Butantã, nas avenidas Eliseu de Almeida e Jorge João Saad, e na instalação de 80 km de ciclofaixas em ruas adjacentes, totalizando 95 km.
O Grupo Executivo da Prefeitura de São Paulo para Melhoramentos Cicloviários (Pró-Ciclista), formatado entre diversas secretarias, atua em projetos do uso da bicicleta como meio de transporte na metrópole. "Entendemos que para isso é necessário fundamentalmente trabalhar em três frentes: estruturas viárias de estacionamento, circulação e gerenciamento de tráfico, e educação de trânsito e comunicação social", descreve Laura Ceneviva, funcionária da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e membro do Pró-Ciclista, no qual atuou como coordenadora desde seu início até a metade do ano, quando a organização do grupo foi transferida para a pasta de Transportes. Com orçamento de R$ 15 milhões anuais, eles vêm desenvolvendo sistemas cicloviários na Avenida Radial Leste e nos bairros de Ermelino Matarazzo e Casa Verde, por exemplo, além de promover ações de educação para o trânsito. Transporte coletivo e sustentável integrados
No rol de ações que tornam cada vez mais viável ao ciclista se locomover no dia-a-dia em segurança e com conforto e praticidade, talvez entre as iniciativas mais importantes no Brasil hoje estejam as de integração da infraestrutura para bicicletas ao transporte coletivo, especialmente trens e metrô. Levando em conta que o uso ideal da magrela é para deslocamentos de curtas distâncias, é importante que o usuário possa não apenas pedalar até a estação mais próxima, mas contar com um local adequado de estacionamento. Quando Adilson da Silva chefiava a estação ferroviária de Mauá. notava-se cerca de 200 bicicletas nas cercanias do local, amarradas de forma improvisada e atrapalhando a circulação de quem pegava o trem. "Aí dentro da CPTM (Companhia Paulista de Transporte Metropolitano) eu resolvi organizar essa questão e entendi que essas pessoas que deixavam as bicicletas eram nossos usuários", conta Silva. A partir de então, ele apresentou à empresa a proposta de utilizar um espaço da própria CPTM ao lado da estação e construir um bicicletário. Hoje, a Ascobike, como o local foi batizado, possui capacidade para mais de 2,3 mil bicicletas por dia, além de oferecer aos seus 3 mil associados oficina mecânica - que cobra uma faixa de 30% do preço de mercado -, 12 bicicletas para empréstimo, uma televisão com filmes de educação para o trânsito e orientações aos ciclistas e, enfim, serviço de assistência social e atendimento jurídico. Tudo isso pela taxa associativa de R$ 10 mensais. Com o sucesso da iniciativa, a CPTM decidiu replicar estacionamentos em outras estações e hoje já possui 15 bicicletários.
Para quem não tem bicicleta, ainda existe outra opção, em São Paulo, de integração ao transporte coletivo e individual, esta fomentada pela empresa Porto Seguro Seguros em parceria com o Instituto Parada Vital e o governo estadual. A UseBike foi criada no início de 2008 com a implantação de paraciclos em algumas unidades da rede de estacionamentos Estapar. Assim, o motorista poderia fazer uma viagem parte de bicicleta, parte de carro, com 30% de desconto para o automóvel e direito a uma magrela gratuita. Pouco tempo depois, a ideia foi expandida para diversas estações do Metrô e, munida de RG, CPF, comprovante de residência e um cartão de crédito, qualquer pessoa pode alugar uma bicicleta. Quem já possui sua bike tem direito de estacioná-la nos postos da UseBike, basta se cadastrar e levar uma tranca ou cadeado.
Fonte: Revista Sustenta (SP), novembro/2009