Muitos fatores contribuem para tal cenário, a começar por uma operação aritmética simples. A quantidade de veículos cresce dia a dia, sem, no entanto, haver uma contrapartida à altura de investimentos em transportes. Em 2007, a frota do município atingiu a marca de 2 milhões de automóveis, e, de lá para cá, viu-se acrescida de 245.000 unidades. Em 2009 vai-se bater o recorde, com mais de 100.000 novas máquinas registradas no Detran.
Antes de cair em desespero, ou pensar em sair da cidade, um alento: é possível enfrentar a situação e diminuir o problema. A realização da Olimpíada, megaevento que está atrelado a vários projetos no setor viário, trará uma série de mudanças radicais. Na segunda-feira passada, a prefeitura deu o primeiro passo para a implantação do BRT (Bus Rapid Transit), ônibus articulado em uma pista exclusiva, utilizado com sucesso em Curitiba e Bogotá. A primeira linha deve interligar a Barra da Tijuca à Penha em 45 minutos - a metade da duração atual. O metrô também traz boas novas, com a inauguração de sua primeira estação em Ipanema e a conexão direta Pavuna-Botafogo, que pode agregar mais 300.000 pessoas aos trens subterrâneos. Até 2016, só no trajeto Zona Sul-Barra, estão previstas a construção de mais seis estações e a compra de 19 trens.
CET-Rio: 93 câmeras para monitorar o fluxo de carros
O primeiro passo é reconhecer a existência do problema, diagnosticar suas causas - e atacá-las com inteligência. Ao contrário de São Paulo, onde os congestionamentos são dimensionados diariamente, não existe no Rio de Janeiro uma medição com a extensão total das retenções. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), responsável pela operação do trânsito, utiliza somente o índice global de volumes (IGV), que afere o movimento em onze das principais artérias da cidade. E já foi um avanço. Até 2005, não havia como mensurar o fluxo de automóveis em uma perspectiva mais ampla. Pois em junho o IGV atingiu pela primeira vez o grau 4 da escala e, desde então, não baixou mais desse patamar. Daí se pode concluir que o segundo semestre de 2009 foi o mais engarrafado da história - e assim tomar as devidas providências.
Em conversa com Veja-Rio, o próprio prefeito Eduardo Paes admitiu que o trânsito é o principal calo da cidade hoje. Dias atrás, a prefeitura lançou um Plano Estratégico com metas nas mais variadas áreas para 2012. Até o último momento, Paes ficou em dúvida se deveria incluir algum objetivo concreto sobre o tema. Acabou comprometendo-se a reduzir em ao menos 10% o tempo médio de viagem dos 20 principais percursos do Rio. Trata-se de uma ousadia. Para cumpri-la, pretende modernizar o controle de tráfego local.
Fonte: Revista Veja (RJ), 23 de dezembro de 2009