É o caso do advogado Fabrício Angernani, de 23 anos. "Envio mais quando estou parado no sinal", afirmou o jovem. Esse costume já lhe rendeu "buzinaços". "Quando o sinal abre, e eu não reparo por estar mandando mensagens, buzinam para que eu ande logo." Torpedos com o carro em movimento, ele garante, só são enviados quando o assunto é urgente.
Quando o tráfego está parado, algo comum nos horários de pico em São Paulo, a estudante Letícia Born aproveita o congestionamento para escrever no celular. O número de torpedos que Letícia envia, porém, diminuiu nos últimos meses, não por causa do perigo. "É que a conta do celular andava muito alta", comentou.
Especialistas ouvidos pelo G1 ressaltam o aumento do risco de colisões devido à falta de atenção causada pelas mensagens de texto. De acordo com a professora Silvana Maria Zioni, ex-superintendente de planejamento e desenvolvimento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), direção e celular não combinam. "A manipulação de celulares, que hoje mais parecem computadores de bordo, é incompatível com a direção", afirmou.
O uso do torpedo tira a atenção no trânsito do cérebro do condutor. "Você desvia o foco visual para o aparelho e o carro fica num voo cego", disse o consultor de engenharia de tráfego Horácio Augusto Figueira, da consultoria Hora H.
Conforme José Montal, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), "90% das informações para se dirigir são captadas pelo sentido da visão". "Dessa forma, qualquer evento que porventura tire a atenção do condutor pode causar um acidente", afirmou.
Esse tipo de desatenção pode causar mortes. No Exterior, por exemplo, uma motorista atenta na mensagem que enviava - e distraída com o trânsito - provocou um acidente fatal. A britânica Philippa Curtis, de 21 anos, dirigia a mais de 100 km/h quando acertou a traseira do carro de Victoria McBryde, de 24, que morreu. Philippa foi condenada a 21 meses de prisão.
Bebida
Pesquisa divulgada no ano passado por um instituto londrino revela que esse tipo de comunicação atrapalha mais os motoristas do que o uso de bebidas alcoólicas.
Conforme o levantamento da RAC Foundation, que trabalha com segurança dos motoristas, as reações dos motoristas foram 34,7% mais lentas quando dirigiam enquanto escreviam ou liam torpedos. Já motoristas que bebiam tinham reações 12,4% mais lentas, conforme a fundação.
Para a professora Silvana, os motoristas deveriam ter mais consciência ao dirigirem. "Fazer duas coisas ao mesmo tempo não dá certo. O ato de dirigir não é como (o ato de) respirar", comparou.
Como solução para a comunicação móvel no trânsito, os especialistas aconselham os motoristas a deixarem seus aparelhos em modo silencioso. "Deixe a curiosidade de lado, deixe no silencioso, que registra a chamada", afirmou o consultor Figueira. "Eu não atendo enquanto dirijo. É uma norma de segurança pessoal minha."
Multas
Não é só o risco de acidentes que o motorista deve levar em conta ao mandar um torpedo enquanto dirige. Conforme a CET, dirigir com apenas uma das mãos ou falando ao celular representa infração média, que ocasiona multa de R$ 85,00 e mais quatro pontos na carteira de habilitação.
No ano passado 373.455 motoristas foram multados após serem flagrados dirigindo e falando ao celular apenas na cidade de São Paulo. A companhia, porém, não tem dados relacionados a condutores pegos enviando torpedos.
Fonte: portal G1, 1º de julho de 2009