Segundo o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-DF), Carlos Hiram Bentes, o movimento é mais acelerado que o dos apartamentos e das casas. ?Para as imobiliárias, sempre existiu um mercado atuante. Não há mudança nesse sentido, mas no aspecto da valorização, isso sim é discrepante em relação ao metro quadrado de outros imóveis. Há dois anos, uma vaga custava R$ 50 mil ou R$ 55 mil. Hoje chega a R$ 70 mil ou R$ 75 mil?, compara.
Com o dinheiro necessário para comprar 12,5 m2 de uma garagem, é possível adquirir três carros do modelo Uno Mille e ainda pagar o seguro. O valor, porém, não impede que funcionários dos setores hoteleiros, comerciais, bancários e de autarquias Sul e Norte paguem pela área. As justificativas são as mesmas: o medo de sequestros e assaltos, a dor de cabeça de procurar um espaço próximo ao trabalho e o risco de encontrar o carro com uma batida ou um arranhão. Como as vagas geralmente são comercializadas com as salas, as escrituras vêm separadas justamente para facilitar as negociações.
A alternativa para quem não quer ou não pode ter a posse definitiva é o aluguel, que varia entre R$ 300 e R$ 500, e o estacionamento rotativo, em que o motorista desembolsa uma média de R$ 6 por hora. Um prédio no Setor Hoteleiro Sul (SHS) não possui mais vagas para locação, mesmo com a mensalidade a R$ 460. A lista de espera tem 75 pessoas e, por enquanto, está disponível apenas o sistema de rotatividade. Custa R$ 9 a primeira hora, mais R$ 5 a segunda hora e, daí em diante, R$ 3 a cada 60 minutos. Em um edifício vizinho, com capacidade para 7 mil automóveis, o aluguel sai bem mais em conta: R$ 200 por mês. A rotatividade vale R$ 0,10 o minuto.
Para lucrar com o negócio, o proprietário de uma sala no prédio do SHS adquiriu 10 vagas para locar a terceiros. Assim, ele arrecada R$ 4.600 mensais. Quando comprou as unidades, elas custaram, cada uma, R$ 45 mil. A promoção durou por tempo limitado e, agora, estima-se que cada uma tenha praticamente dobrado de preço, chegando a R$ 90 mil. Com tais cifras, a capital aproxima-se de São Paulo, líder brasileiro no mercado. Um estacionamento rotativo na capital paulista sai a R$ 10 a hora.
Supervisor de uma equipe de corretores, Gustavo Ferreira explica que, além dos prédios comerciais, edifícios residenciais comercializam vagas avulsas. ?Cada apartamento vem com uma unidade na garagem e, além disso, são disponibilizadas mais 60. Só pode comprar quem tem o apartamento. Em Águas Claras, o aluguel gira em torno de R$ 120 e, na Asa Sul, vai para uns R$ 200?, avalia. Um negócio com margem de lucro maior para os corretores é a venda de um andar ou prédio inteiro de estacionamento. Nesse caso, o comprador é a empresa interessada em montar um fluxo rotativo. Cerca de 300 vagas podem custar até R$ 8 milhões.
Lotado
Segundo o Departamento de Trânsito (Detran), há 1,4 milhão de veículos circulando no DF, sendo 73% automóveis particulares. A capacidade de toda a área central, 15 mil vagas, seria suficiente para atender só quem circula pelo Setor Comercial Sul (SCS), que tem somente 2 mil vagas. No Setor de Autarquias Sul, a situação é a mesma, com o agravante de que não existe estacionamento rotativo pago ou para aluguel. ?Tenho várias multas. Minha opção é fechar alguém ou parar em cima da calçada e tenho consciência de que, se vier um cadeirante, vai atrapalhar. Passo de 30 a 40 minutos procurando um lugar?, observa a servidora pública Alessandra Pereira.
Fonte: Correio Braziliense (DF), 5 de setembro de 2013