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O medo de que uma economia mundial baseada em biocombustíveis seja um tiro pela culatra no combate ao aquecimento global não tem muito fundamento, indica um novo estudo. Simulando um futuro em que os combustíveis fósseis seriam substituídos, pesquisadores concluíram que o cenário mais provável é um em que álcool e biodiesel possam mesmo ajudar a evitar emissões de gases do efeito estufa.
Segundo a Folha de S. Paulo, o novo trabalho publicado pela revista "Science" indica que a atual política para uso da terra com biocombustíveis está no caminho certo, mas alerta que uma mudança poderia provocar sim efeitos indesejáveis.
Liderado por Jerry Melillo, do Laboratório de Biologia Marinha de Woods Hole (EUA), o trabalho mostra primeiro um cenário pessimista. Efeitos "indiretos" da ampliação de produção de biocombustíveis seriam capazes de emitir até duas vezes mais CO2 que o uso direto de terras para plantar vegetais necessários ao produto. Isso ocorrerá se pastagens desalojadas para a produção de cana, por exemplo, restabelecerem-se em áreas de floresta, provocando desmatamento.
O uso sem limites de fertilizantes nitrogenados também seria nocivo por produzir óxido nitroso, um gás de efeito estufa. A relação entre agricultura e ambiente observada nos últimos dez anos, porém, aponta para um caminho diferente. Segundo os pesquisadores a tendência é que as políticas antidesmatamento atuais mesmo longe de ser perfeitas consigam dar conta de frear esse problema.
Biocombustíveis nesse caso têm vantagem inquestionável sobre petróleo pois plantas absorvem CO. "Se as coisas continuarem como são hoje, vão reiterar o que está no segundo caso, mais otimista", diz Angelo Gurgel economista da USP que participou do estudo. "Mas se a pressão por bioenergia e alimentos for grande a ponto de os governos flexibilizarem a proteção ambiental, o cenário muda." O modelo matemático da simulação de Gurgel e colegas é possivelmente o mais completo já usado para ver o impacto dos biocombustíveis na mudança do uso de terra.
Seu resultado otimista com alguma surpresa contrariou projeções sombrias obtidas por outros. Esse tipo de simulação vinha sendo criticado por cientistas como José Goldemberg, também da USP, pioneiro do planejamento econômico para o álcool. "Um modelo geral para o mundo não se aplica em situações particulares como a do Brasil", diz o cientista. Um dos problemas, explica, é que o álcool de cana brasileiro produz muito mais energia por área cultivada do que o álcool de milho americano, por exemplo. O trabalho de Gurgel, porém, evita isso ao se esquivar do debate sobre quais vegetais são melhores. "No longo prazo o mercado vai selecionar naturalmente aqueles que tiverem potencial", afirma. O medo de que a valorização de terras viáveis para essas plantas as faça "empurrar" o gado para cima da floresta também não parece ter muita sustentação. Segundo Gurgel, porém, será preciso reforçar no futuro os mecanismos que por enquanto impedem isso.
Fonte: Folha de S. Paulo, 23 de outubro de 2009

Categoria: Cidade


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