Só no centro comercial do Plano Piloto, coração do Distrito Federal com apenas 200 mil habitantes vivendo naquele "avião" desenhado pelo arquiteto Lúcio Costa, há um déficit de 15 mil vagas para estacionar, frisa o jornal Estado de S. Paulo.
O aniversário dos 49 anos da cidade, no dia 21 de abril, já está tomado por um debate que parece coisa de São Paulo: como destravar um trânsito que na hora do rush - pela manhã das 7 às 9 horas e à noite das 17 às 20 horas - se arrasta lentamente por avenidas largas de até seis pistas de cada lado. A semelhança com as Marginais do Tietê e do Pinheiro é evidente.
A combinação da maior renda per capita do País com a péssima qualidade do transporte público, um metrô ainda incipiente e uma setorização exagerada explica a brincadeira que define o brasiliense um sujeito com cabeça, tronco e rodas. "A cidade é feita para o carro porque é divida em setores. Então, para ir de casa ao banco, à padaria ou ao cabeleireiro, o brasiliense sempre sai de carro", lembra o secretário de Transportes, Alberto Fraga. De cada dez veículos, sete rodam com apenas um passageiro.
A taxa de motorização, hoje de 41%, superou a de Florianópolis (40%), São Paulo (37%), Curitiba (36%) e Porto Alegre (34%), as cidades mais motorizadas do Brasil. O número de veículos dobrou em oito anos: em 2000, segundo o Detran, existiam 585,4 mil carros circulando; em dezembro passado, já eram 1.046.638. A taxa de crescimento médio da frota é de mais de 8% ao ano desde 2006 - ou seja, a cada ano surgem quatro vezes mais carros do que bebês na cidade.
Cantado em prosa e verso, o planejamento de Brasília nasceu capenga, sem o transporte mais eficiente do mundo, o metrô, analisa o Estadão. Embora tenha começado a ser construído em 1992, só nos últimos dois anos é que o metrô passou de 55 mil passageiros por dia para os atuais 160 mil. Como nas demais metrópoles, Brasília também discute a criação de corredores exclusivos para ônibus, sistemas de veículos leves sobre pneus (VLP) e sobre trilhos (VLT) e a construção de 600 km de ciclovias.
Enquanto isso, o brasiliense arquiva na memória a história da capital em que as "tesourinhas" (trevos) faziam as vezes de semáforos. A única virtude é que, apesar de tanto carro, as faixas de pedestres são respeitadas.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 29 de março de 2009