A aprovação pela Câmara Municipal do projeto de Concessões Urbanísticas, juntamente com a primeira delas, referente ao projeto Nova Luz (ex-Cracolândia), não prevê, como uma das infraestruturas básicas, os estacionamentos.
Uma das causas da degradação do Centro tradicional foi a insuficiência ou inexistência de vagas, tanto para os moradores como para os trabalhadores em serviço na área. Por ser predominantemente ocupado por imóveis construídos antes do "boom" ocorrido na indústria automobilística, não havia reservas dentro dos imóveis para o estacionamento privado de automóveis. Sejam garagens cobertas ou espaços descobertos.
A tentativa de construir garagens subterrâneas no Centro, para atender à demanda, esbarrou na oposição dos que são contrários à criação de facilidades para o carro particular, para forçar o uso do transporte coletivo. Na prática muitos preferiram mudar de local a depender do transporte coletivo. Isso levou ao esvaziamento e posterior reocupação com a pobreza e a informalidade.
É ilusório imaginar que se possa revitalizar uma área degradada da cidade com base no acesso apenas mediante o transporte coletivo, ainda que metroviário.
A revitalização de qualquer área urbana requer um enriquecimento econômico na ocupação das áreas privadas. Os decisores de grandes empresas, nacionais ou multinacionais, só irão se instalar nas áreas objeto de revitalização se puderem ter acesso para eles e para os seus principais clientes por carro e com facilidades de estacionamento. Essa facilidade significa acesso e menor caminhada a pé entre o local do estacionamento e o destino.
Já os seguidores, que são os empregados que não decidem pela localização da oferta de trabalho, mas são demandantes dessa oferta, podem se utilizar do transporte coletivo.
Sem uma adequada oferta de vagas para atender aos decisores e clientes, a tentativa de revitalização ficará comprometida.
Se a oferta for excessiva, os preços serão mais baixos, podendo estimular o uso do carro em vez do transporte coletivo. Uma oferta adequada significa atender aos decisores e clientes vips, sem estimular o uso do automóvel por todos os moradores ou frequentadores da área.
Uma outra contradição deve ser considerada, no caso do Projeto Nova Luz. Situando-se junto de uma estação ferroviária que, igualmente, se pretende revitalizar, como estação terminal de trens rápidos entre São Paulo, Campinas e Aeroporto de Guarulhos, daí seguindo ao Rio de Janeiro, será um polo logístico que irá requerer um grande estacionamento de transferência.
Para muitos dos viajantes que poderão fazer o trajeto São Paulo-Rio pelo "trem bala" para permanência curta no Rio de Janeiro, a logística particular será ir de carro até a estação, deixá-lo estacionado durante algumas horas, para pegá-lo no retorno. Em muitos casos, o custo aparente será menor do que utilizar táxi.
Uma tarifa mais modesta do estacionamento poderia favorecer o seu uso pelos trabalhadores da área, os quais, lotando o estacionamento de transferência, poderiam prejudicar a demanda dos viajantes. Esse prejuízo poderia acarretar a preferência pela via aérea.
Em quaisquer das circunstâncias, os estacionamentos serão um ponto crítico das estratégias de revitalização.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.