Wilma dos Santos vende flores há dez anos no mesmo farol em que Celina Domingues trabalha como agente da CET. Entre silvos e rosas, uma ajuda a outra. "Quando a gente se vê, ela abraça, beija. E avisa quando tem acidente ou carro quebrado lá atrás", diz Celina.
Wilma adora falar de outros habitantes daqueles frequentes um minuto e meio de sinal vermelho. Seus clientes estão sempre por ali, querendo eles ou não, mais ou menos nos mesmos horários. São executivos, madames, motoboys, motoristas de ônibus, taxistas. Dá até para vender fiado, todos voltarão mesmo no dia seguinte. "Eu tenho o telefone das minhas clientes. Algumas são como irmãs."
O único imóvel residencial do cruzamento também guarda amizades com as do asfalto, de passagens rápidas e marcantes. Zelador do prédio amarelo de cinco andares do número 81 da Henrique Schaumann, Antonio Dias não esquece das visitas à esquina do roqueiro Keith Richards, dos Rolling Stones. Acolhido algumas vezes no apartamento do artista plástico brasileiro Ivald Granato, Richards virou lenda. "Minha filha tem foto com ele. Tinha festa toda hora naquele apartamento. Muita gente. Eles eram tão legais que ninguém reclamava", conta o zelador.
Estranho mesmo é quando Henrique Schaumann e Rebouças resolvem ficar em silêncio. E olha que isso só acontece uma ou duas vezes ao ano, relata reportagem do Jornal da Tarde. "Quando a avenida está livre, como no réveillon, a gente sente falta do barulho", diz o zelador Antônio.
Os sons dos carros são uma espécie de sinais vitais do cruzamento. Pois então, no pico do dia, a CET informa: a pulsação da esquina chega a 173 batimentos, ou melhor, veículos por minuto. Se estiver por lá nessa hora, tente relaxar, não xingue o agente de trânsito de plantão e, se puder, compre uma rosa da Wilma. Lembre-se de que ela adora fazer amigos no farol.
Fonte: Jornal da Tarde, 22 de janeiro de 2010