Parking News

A exploração de estacionamentos públicos por criminosos já chegou à Zona Sul e obrigou a Embrapark, empresa que opera em oito bairros, a contratar seguranças para proteger seus 600 guardadores. Conforme a reportagem de O Dia, muitos profissionais do turno da noite são obrigados por traficantes ou milicianos armados a deixar os postos antes do fim do expediente. Os novos "donos" das vagas cobram até R$ 15,00 de motoristas que param a partir das 22h.
O ataque do crime aos espaços delimitados pela CET-Rio não tomou conhecimento da presença da Embrapark, vencedora de licitação para controlar 9.049 vagas. Os guardadores trabalham em dois turnos - das 7h às 15h e das 15h às 23h. Deveria haver um terceiro, madrugada adentro, mas a empresa teria deixado de reivindicar a extensão do horário justamente por causa do risco de vida que os trabalhadores passaram a correr. A Embrapark não revelou se os seguranças trabalham armados nem informou os valores, mas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a contratação dos vigias gerou altos custos. Na Área Azul, que compreende Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon, Gávea, Lagoa, Jardim Botânico e São Conrado, guardadores temem dar declarações. Comerciantes, porém, dizem testemunhar a ação das quadrilhas. "Por volta das 22h, faltando uma hora para os funcionários da Embrapark fecharem o expediente, flanelinhas começam a rondar os pontos, fazendo pressão psicológica. Na Praça Nossa Senhora da Paz (em Ipanema), eles passam a tomar conta até o amanhecer. Permitem até estacionamento sobre as calçadas", comentou Z., sócio de uma casa noturna na Rua Barão da Torre.
Na Rua Joana Angélica, os flanelinhas também ditam suas regras após as 23h. "É uma bagunça. Eles discutem aos berros a noite toda, incomodando os moradores", contou um vizinho da praça. X., um dos poucos guardadores que se dispuseram a falar, comentou que os flanelinhas ilegais chegam sempre em motos ou bicicletas e em duplas. Alguns exigem a saída dos guardadores antes das 23h. "Estão sempre armados. Mandam a gente sair e depois tomam conta dos pontos. Nos fins de semana, quando a praia está cheia, o pedaço é deles. De vez em quando, até brigam na frente dos motoristas pela disputa do controle das vagas."
Policiamento zero à noite
Na tarde do dia 20 de janeiro, policiais militares circulavam em viaturas pelas ruas de Ipanema. "Mas, depois das 23h, nem PMs nem guardas municipais abordam os flanelinhas", comentou Z. Com medo, em virtude de ameaças de morte, vários guardadores da Embrapark pediram demissão nos últimos meses. Em vários bairros, guardadores - muitos obrigados a pagar entre R$ 40,00 e R$ 60,00 a milicianos diariamente, conforme denúncias feitas a O Dia - não dão o tíquete de R$ 2,00 aos motoristas, o que é ilegal. Na Rua Washington Luiz, nas imediações da Praça da Cruz Vermelha, ao lado do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Centro, por exemplo, pelo menos 10 veículos estavam estacionados em áreas da CET-Rio sem tíquetes nos para-brisas, como na quarta-feira passada a reportagem havia flagrado.
A Guarda Municipal informou que cabe apenas à instituição multar o dono do carro que estiver nas vagas sem o tíquete no para-brisa, mas que alerta os guardadores de que deixar de fornecer o tíquete é contra a lei.
Em Jacarepaguá, milícia domina
O Dia vem mostrando o drama dos guardadores ameaçados e expulsos de seus pontos por bandos criminosos, como em boa parte das vagas de estacionamento rotativo no Pechincha, Taquara, Tanque e Freguesia, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, e no Centro. Segundo testemunhas ouvidas pela reportagem, grupos armados circulam diariamente nas áreas delimitadas pela CET-Rio, onde paramilitares têm colocado flanelinhas de confiança para arrecadar dinheiro para a quadrilha. Nessas localidades, pelo menos 10 guardadores ligados a associações, cooperativas e ao sindicato da categoria (Singaerj), que exploram mais de 250 vagas, foram pressionados a deixar seus postos nas últimas semanas. Y. é um deles. "Somos reféns de quadrilhas poderosas, que conseguem informações sobre a gente com maus policiais nas delegacias", desespera-se. Diante da ação dos bandidos, os trabalhadores, conforme denúncias, que se recusam a deixar as vagas atuam sem tíquete para tentar levar algum dinheiro para casa.
Em três meses, R$ 7,4 milhões
A cobiça pela disputa do controle das vagas da CET-Rio é motivada por um mercado milionário, que costuma movimentar, a cada três meses, mais de R$ 7,4 milhões, com a venda, em média, de 3,7 milhões de tíquetes. O tempo de permanência dos carros nas vagas varia de acordo com a localidade. Atualmente 50 cooperativas e individuais exploram 43 mil pontos regulamentados na cidade, por meio da atuação de 5 mil guardadores legalizados. A CET-Rio informou, através de sua assessoria de imprensa, que cabe à polícia, à Guarda Municipal e à Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) apurar denúncias e fiscalizar possíveis irregularidades no setor.
Além de agentes do Serviço Reservado (P-2) da Polícia Militar, titulares das delegacias das regiões dominadas por milicianos e traficantes prometeram investigar as denúncias, como a 32ª DP (Taquara) e 41ª DP (Tanque). "Os guardadores devem registrar queixa para que possamos comprovar as denúncias. Informações podem nos ajudar também através do Disque-Denúncia (2253-1177), onde a pessoa não precisa se identificar. Se preferir, quem estiver sofrendo tais ameaças pode até me procurar pessoalmente na delegacia", afirmou o delegado da 32ª DP, João Luiz Garcia. Em nota, a PM prometeu reforçar a segurança nas áreas da CET-Rio, inclusive à noite. A ordem do comando da corporação, segundo a assessoria, é apertar o cerco contra flanelinhas que estiverem rondando as áreas demarcadas pela CET-Rio, sem nenhum vínculo com a Embrapark, no caso da Zona Sul, ou com cooperativas em outras áreas da cidade.
"Faziam questão de deixar à mostra revólveres e pistolas"
"Quando pessoas estranhas começaram a rondar o ponto onde eu trabalhava, fiquei assustado. Eram homens que faziam questão de deixar revólveres e pistolas à mostra. Primeiro, me fizeram uma proposta absurda: para continuar trabalhando, teria que pagar uma taxa de R$ 60,00 por dia a eles. Como me recusei, disseram que era melhor eu sair do ponto para que nada de mal pudesse acontecer comigo e com minha família. Falei que ia denunciá-los na delegacia local e, para minha surpresa, mostraram cópia do meu registro como guardador na polícia, com todos os meus dados e meu endereço. Fiquei apavorado e sem a quem recorrer. Hoje, eu e minha família estamos passando por necessidades".
Fonte: O Dia (RJ), 20 de janeiro de 2010

Categoria: Geral


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