Não é para menos: o tíquete médio de estacionamento em Porto Alegre, que concentra a maior parte das operações no Estado, custa R$ 6 a hora, segundo avaliação do Sindicato das Empresas de Garagens, Estacionamentos, Limpeza e Conservação de Veículos do Rio Grande do Sul (Sindepark-RS). Isso quer dizer que deixar o carro em lugares com falta de vagas, como os bairros Moinhos de Vento e Três Figueiras, custa bem mais do que o valor médio. Numa das garagens mais movimentadas da Rua Padre Chagas, área nobre da Capital, deixar o automóvel guardado por uma hora custa R$ 9. Se a permanência se estender para três horas, o desembolso salta para R$ 21.
Mesmo assim, os empresários do setor dizem que a atividade está longe de ser bem remunerada. Eles reclamam principalmente que os custos são elevados, em especial com locação de espaços, impostos e seguros. Além disso, por mais que os estacionamentos sejam automatizados, o custo de mão de obra chega a 35% do faturamento. Para obter bons rendimentos, só com alta rotatividade, diz o presidente do Sindepark-RS, André Piccoli.
"Trata-se de um setor muito concorrido e com muitos encargos. Como não há planejamento de longo prazo para o trânsito em uma cidade como Porto Alegre, faltam vagas, e o preço sobe", sustenta Piccoli.
Responsabilidade civil preocupa investidor
Há mais de 30 anos a cidade não assiste à construção de um grande edifício-garagem como aqueles que eram comuns na década de 1970. É dessa época, por exemplo, a Garagem Monza, na Avenida Independência, que depois do apogeu vive um período de decadência - apesar da quantidade de carros em busca de um lugar para estacionar. A garagem está localizada numa região central de Porto Alegre que foi cortada por um corredor de ônibus. Ou seja, chegar ali de carro requer uma intrincada engenharia de trânsito. "Como a maioria das garagens dessa região central, é um local subaproveitado", diz o antigo operador da Monza, Francisco Nora.
No final dos anos 1980, animado com a perspectiva de fazer um bom negócio, o empresário arrematou a operação do ponto e até ganhou dinheiro durante algum tempo com os 250 boxes do estabelecimento, distribuídos em cinco andares. No início dos anos 1990, o trânsito mudou e o negócio minguou. Nora, que ainda é síndico da Garagem Monza, resistiu até 2001, quando passou o ponto a outro empreendedor. "Não há segurança para investir, e o fantasma da chamada responsabilidade civil transforma a atividade em uma operação de alto risco", opina.
Nora cita o exemplo do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde a sua empresa, a NPark, explora as 1,44 mil vagas cobertas e as mil localizadas do lado de fora. Sempre lotado, o estacionamento tem um tíquete de R$ 7 a hora. "É um bom negócio para a Infraero (estatal que administra o aeroporto)", critica o empresário.
Mais de 50% do faturamento bruto do ponto fica com a empresa, assegura Nora. Em outros pontos de grande movimento, como hospitais e universidades, a relação entre o permissionário e o dono do negócio é a mesma.
Margem não chegaria a 4%
No Centro, os grandes edifícios de estacionamento também são dos anos 1970. A proprietária da Garagem Mauá, Claudia Plass, diz que hoje jamais faria um investimento como o que fez seu pai em 1974, data de construção do prédio. Com 600 lugares, a garagem funciona durante as 24 horas do dia e tem um tíquete médio de R$ 15 para um período de três horas. Claudia se defende dos críticos do preço alto listando os custos fixos que tem de arcar no seu negócio: imposto predial (IPTU), seguro dos veículos, mão de obra, elevadores e banheiros, além de investimentos em automação e em segurança, como câmeras. Segundo a empresária, esses custos consomem mais de 80% da receita bruta. "Se há demanda e pouca oferta, é natural que se pague mais pelo serviço", adianta.
Claudia também se queixa da alta informalidade do setor, que prejudica as empresas que investem. "O problema é que os consumidores não entendem o estacionamento como uma prestação de serviço. Nós procuramos só uma vaga, nada mais. Ninguém sai de casa para estacionar: as pessoas saem para se divertir, para comprar, para passear. Mas, antes do seu destino, precisam deixar o carro em algum lugar", completa.
Para o empresário Fernando Stein, dono da Moving, a única forma de ganhar mais dinheiro com a atividade é multiplicar ao máximo a exploração de vagas. A empresa dele, por exemplo, explora estacionamentos de grandes universidades e de hospitais - locais de grande movimento e alta rotatividade. Mesmo assim, a margem de rentabilidade não chegaria a 4%.
Metro quadrado caro como o de alto padrão
Comprar uma garagem num prédio comercial pode não chamar a atenção pelo preço unitário. Mas, quando o consumidor se dá conta de quanto está pagando pelo metro quadrado, pode tomar um susto.
Um boxe de 12 m2 de área privativa no bairro Moinhos de Vento, onde o déficit de vagas é um dos maiores de Porto Alegre, custa até R$ 25 mil - fazendo as contas, pouco mais de R$ 2 mil o m2. O Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil indica que o mesmo metro numa edificação do nível mais alto (leia-se, luxo) custa R$ 1.256,95. É uma diferença bem grande.
"Comprar uma vaga para investir, mesmo em lugares onde há demanda, não é um bom negócio", diz o empresário Fernando Stein, dono da Moving.
Alugar uma vaga por um mês custa caro - de R$ 140 a R$ 280, dependendo do bairro. Mas, em termos de remuneração para o investimento, não é um valor atraente. Isso porque é necessário descontar desse preço o valor do condomínio e dos impostos e, ainda, torcer para que o inquilino não se torne inadimplente.
Por isso há tanta oferta de boxes para vender. Só na garagem Gigante, no Centro de Porto Alegre, são 50 vagas à procura de compradores - quase 10% da capacidade total do empreendimento. As vagas estão lá desde 2004. Sinal de que os investidores sabem onde não colocar seu dinheiro.
Fonte: Zero Hora (Porto Alegre-RS), 2 de maio de 2010