Em todas, tem que ter emprego, moradia e é preciso ser possível, pelo menos, ir de casa para o trabalho e do trabalho para casa.
Depois de um dia cansativo no serviço, no Rio de Janeiro, o agente de segurança Jonathan Marques, caminha dez minutos até o ponto de ônibus. Depois, paciência para chegar à Central do Brasil. Ele não pode perder o outro ônibus para Japeri, na Baixada Fluminense. Ao todo, uma viagem de quase 90 km. Feita duas vezes por dia. Em torno de cinco horas, duas e meia pra vir e duas e meia para voltar. "Sensação de stress porque a gente fica mais estressado no ônibus do que no próprio trabalho", fala Jonathan.
No Rio, ainda há um dado que chama a atenção. O levantamento da ONU mostra que de cada 100 pessoas que usam transporte público, 82 também se locomovem com bicicletas e com as próprias pernas e essa opção não é por causa da preocupação com a saúde.
Faltam linhas de transporte que atendam os bairros das periferias e também linhas diretas entre as cidades que crescem e que viram quase uma só. Por isso, é preciso caminhar ou ir de bicicleta até onde passam a van, o ônibus ou trem.
Segundo o professor de engenharia de transportes Paulo César Ribeiro, as prefeituras têm bons planos pro o sistema de transportes, mas os interesses políticos e econômicos costumam falar mais alto. "Cada governante vai chegar e diz que seu plano é melhor que o anterior, isso é comum. Nas ruas, as pessoas estão perdendo tempo, gastando dinheiro, acordando mais cedo, chegando mais tarde, esse é que é o problema."
Para o representante da ONU para assentamentos humanos, Erik Vittrup, uma nova tendência, que está surgindo na Europa, deveria ser o modelo para a América Latina: cidades reorganizadas, com pequenos centros de comércio, e de indústria, com regiões residenciais próximas, onde as pessoas não levem tanto tempo de casa para o trabalho. São o que os especialistas chamam de "cidades 15 minutos". "É uma cidade onde de qualquer lugar onde você está não tem mais de 15 minutos para satisfazer suas necessidades na cidade. Isso é o ideal."
Fonte: Jornal da Globo (Rede Globo), 21 de agosto de 2012