Essa dinâmica populacional, informa O Estado de S. Paulo, é uma das conclusões da pesquisa Distribuição da População na Região Metropolitana de São Paulo, do engenheiro Carlos Eduardo de Paiva Cardoso. Publicado na Revista Engenharia em 2009, o estudo comparou os dados demográficos de 1997 e de 2007 da Pesquisa Origem Destino do Metrô. "O fato de o Metrô de São Paulo ser composto de poucas linhas, uma mercadoria rara, permitiu ao mercado aferir altos lucros por meio de lançamentos imobiliários", diz a pesquisa.
Cardoso, que é mestre em Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, trabalha como analista de sistema e planejamento de tráfego e transporte da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Escassez de serviços
Para o urbanista João Valente, a valorização de áreas com boa oferta de transporte público é natural, mas a valorização excessiva, que expulsa moradores originais, aponta escassez do serviço na cidade. "Uma política mais intensa de desenvolvimento do transporte público tenderia a diluir essa valorização excepcional." A substituição dos moradores originais de um bairro por famílias mais abastadas é chamada de gentrificação, segundo a arquiteta e urbanista Denise Antonucci Capelo, do Mackenzie. E a população mais suscetível, em curto prazo, é a que paga aluguel, segundo a urbanista Lucila Lacreta, coordenadora do Movimento Defenda São Paulo. Há 36 anos vivendo na Barra Funda, o advogado Edivaldo Godoy sente os efeitos desse processo. "Vivemos num bairro de classe média, mas o bolso continua sendo de pobre." Além de ter terminal de metrô, trens e ônibus, a Barra Funda é um dos últimos bairros com grandes terrenos vagos e, assim, capacidade para receber empreendimentos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 15 de abril de 2010