Parking News

Jorge Hori *

Quem são os usuários de estacionamentos? O que pensam? Como agem? O que os leva a tomar uma ou outra decisão em relação a estacionar o seu carro?
Essa última condição já leva a diminuir o universo dentro da população de uma cidade. O potencial usuário de estacionamento é um detentor de um automóvel. Pode ser próprio, alugado ou cedido. Mas dispõe de um veículo para se locomover, para ir a um destino. Chegando ao destino precisa estacionar o veículo. Como e onde estacionar o veículo?
Mas nem todo detentor de um automóvel é um usuário de estacionamento. Há aqueles que não saem com o automóvel e preferem se locomover a pé, de bicicleta, de moto, ou de transporte coletivo. Ou aqueles que podem adotar a carona ou usar o táxi.
Um primeiro elemento de uma pesquisa sobre usuários de estacionamentos deveria conhecer esse não usuário. Estimar o quanto representa e entender quais as suas razões ou motivações para não sair com o seu automóvel, apesar de possuí-lo.
É um conhecimento importante, porque as políticas públicas sobre transporte e trânsito buscam incentivar essas pessoas a deixarem o carro em casa e usar uma das formas alternativas de locomoção. Uma delas é a carona solidária. Outra é a utilização do táxi.
Entre as razões pelas quais o detentor do automóvel prefere não sair com o mesmo (vai a um lugar muito próximo, não quer enfrentar os congestionamentos, prefere o transporte coletivo, o custo é alto etc.), uma delas que merece maior atenção, no caso, é a dificuldade de estacionar no destino. Porque não encontra vagas em locais próximos, os valores dos estacionamentos são muito elevados etc.
Aqueles que saem de suas casas ou dos seus locais de origem para ir a outro (o local de destino) dirigindo um automóvel são potenciais usuários de estacionamentos.
Esses se dividem em duas categorias básicas: os que buscam uma vaga em via pública e os que buscam uma vaga em estacionamento privado.
Entre os primeiros existem os que buscam vagas em locais permitidos, ou seja, em que possam estacionar sem limitações de horários e sem pagamento de nenhum valor. Um segundo grupo é o que busca vagas em estacionamentos rotativos, o que pressupõe uma permanência curta. E há ainda aqueles que buscam (ou se veem compelidos a buscar) uma vaga em locais permitidos, mas tomados pelos "flanelinhas".
O que precisa ser conhecido em relação ao comportamento deles são as razões da escolha, incluindo os comportamentos irregulares.
No caso das vagas em locais permitidos, o porquê? A mais óbvia é que essa estava lá, prontinha para ser ocupada.
No caso de áreas com "flanelinhas", qual é a posição do usuário? Aceita, não aceita? O que acha que deve ser feito para evitar, etc.?
Até que distância do destino final o usuário busca uma vaga em local permitido?
Essa questão pode ser associada a uma percepção dos usuários em relação aos estacionamentos de transferência. Até que ponto (e por que razões pessoais) ele aceitaria estacionar próximo a uma estação ou ponto de um transporte coletivo (ônibus, metrô ou trem metropolitano) e completar o seu percurso num meio coletivo?
Devem ser conhecidas as eventuais idiossincrasias, as razões econômico-financeiras, razões de comodidade. Uma delas poderá ser a distância do seu destino final do ponto do transporte coletivo.
Pode também ser avaliado o posicionamento dos usuários em relação ao "kiss and ride", ou seja, as baias onde o motorista pode deixar o carona para tomar um outro transporte. Ou com troca do motorista.
Dentro dessa categoria poderão ser conhecidos o volume (por amostragem) daqueles que se arriscam a tomar uma multa, por estacionarem em locais proibidos ou em vagas rotativas, sem o cartão, ou permanecendo mais que as duas horas permitidas.
Entre os que buscam uma vaga em estacionamento privado devem ser desdobrados:
- nos que têm vaga própria, nos condomínios ou outros;
- nos que buscam vaga patrocinada pelo visitado, seja em shopping centers, estacionamentos próximos às lojas etc.;
- nos mensalistas, que são usuários habituais;
- nos avulsos, que pagam por períodos estacionados; e
- nos que entregam o seu veículo a um serviço de valet ou manobrista.
Uma hipótese a ser verificada é que há um grande aumento do usuário desses serviços, em duas situações: uma do aumento das áreas "vips" nos estacionamentos com grande demanda, principalmente nos shopping centers, aeroportos e outros.
A outra, dos serviços de valet nos restaurantes, bares e até mesmo lojas.
O que os motiva ao uso desses serviços? Até que valor estão dispostos a pagar pela comodidade? Qual é a avaliação de riscos de entrega do seu veículo a um "desconhecido"?
Uma hipótese adicional a ser verificada, a partir desse fenômeno, é que os estacionamentos privados estão "elitizando" a sua demanda, em função dos preços cobrados.
Qual está sendo o impacto desse processo no trânsito e no comportamento dos usuários?
Um desses seria de que há uma descentralização dos estacionamentos privados. Em torno de uma concentração de destino há os estacionamentos com valores mais altos, com o surgimento de uma oferta em raios mais distantes, com preços menores. Com isso haveria um maior movimento de pessoas a pé, para completar o percurso.
Se essa hipótese for confirmada, seria um indicador para uma política pública de melhoria das condições de pedestrianismo: principalmente quanto à melhoria das calçadas.
Poderia também ser um indicador da viabilidade dos estacionamentos de transferência.
O aumento no uso dos valets pode mudar substancialmente o modelo de operação dos estacionamentos.
Muitos deles deixariam de ter maiores facilidades e conforto para os usuários, voltando a ser garagens, como depósito de veículos, operados por manobristas que buscam o maior aproveitamento dos espaços.
A automação seria substituída pela comunicação. E passariam a requerer maior atenção aos aspectos logísticos do estacionamento.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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