Levantamento da associação mostra que, dos 157 pacientes atendidos na triagem da AACD de janeiro a setembro deste ano, 67,5% apresentavam paraplegia e 32,5%, tetraplegia. Desse total, 77,1% são do sexo masculino. A média de idade é de 31 anos. "Os homens são mais expostos a fatores de risco, aos traumas, como acidente de trânsito e violência", afirma Marcelo Ares, gerente de reabilitação da AACD.
As lesões medulares são divididas em traumáticas, provocadas por acidentes ou ferimentos à bala, e não traumáticas (causadas por doenças, por exemplo). A primeira representa 72,6% dos casos. Entre as lesões causadas por traumas, os acidentes de trânsito provocam 38,6% dos casos, seguido por ferimentos por arma de fogo (26,3%), quedas (21,1%), acidente de mergulho (7,9%) e outros (6,1%).
Um acidente de trânsito ocorrido em setembro de 2007 deixou sem movimentos nas pernas o jovem Fernando Fujita Saga, de 22 anos. Ele estava na parte traseira de um carro, sem o cinto de segurança, quando o veículo bateu contra um ônibus na Vila Maria, na Zona Norte de São Paulo. "Fui jogado para fora e bati em um portão na esquina. O carro veio rodando e parou sobre a minha perna direita", lembra Saga.
No hospital, recebeu a notícia de que o acidente tinha lesionado sua medula. "Quando eu subi para a enfermaria, os médicos me falaram a situação. Eu não me abalei, dei graças a Deus por estar vivo", contou. De lá para cá, ele segue uma rotina de tratamento, que conta com fisioterapia na AACD e com uma profissional particular. "Tive grandes progressos. Eu tenho a minha liberdade, saio", diz ele, que dirige um carro adaptado.
Relatos
O médico Marcelo Ares diz que, na maioria dos casos relatados pelos pacientes, os acidentes foram provocados por alta velocidade, falta de cinto de segurança e imprudência, além de direção sob efeito de álcool ou até drogas. E a reabilitação, segundo ele, começa desde o momento do acidente, na forma como o resgate ao ferido acontece.
"A reabilitação começa um segundo depois que você teve a lesão. É fundamental que, ocorreu o acidente, chame o resgate. É muito importante que esses primeiros-socorros sejam bem feitos. Não mexa, não mobilize, porque, às vezes, no momento não teve uma fratura, mas assim que movimentou isso acontece", afirmou Ares.
Constatada a lesão medular, o emocional do paciente influencia muito. "A parte emocional influencia muito. Emocional, social, suporte familiar e econômico são fatores fundamentais na reabilitação", diz o médico. Com exceção das lesões completas - em que há ruptura total da medula - os médicos dão um prazo de dois anos para ter uma avaliação mais conclusiva do caso.
"Há lesões incompletas em que existe alguma passagem de estímulo, que é preciso aguardar um tempo para se ver até quando esses estímulos vão ser funcionais, ou não. Esse prazo, em média, é de dois anos."
O jovem Michel Sousa Lima, de 20 anos, sofreu uma lesão completa em um acidente de trânsito ocorrido há nove anos na capital paulista. Ele estava voltando da praia quando o tio dormiu ao volante e colidiu com um caminhão. "Bate o desespero em qualquer um que ganha uma sequela, porque você tem uma vida e precisa se adaptar", contou.
Ele entrou na AACD em fevereiro de 2001 e, um mês depois, conseguiu encontrar o que chama de "novo caminho": o esporte. "O tênis de mesa me ajudou a ganhar agilidade. Foi um salto, uma evolução rápida. Faço tudo como uma pessoa normal, mas só com limitação", conta o jovem. A dedicação trouxe resultados. Ele conta que conquistou cinco ouros no Parapan Juvenil, realizado no mês passado na Colômbia, além de diversos outros títulos na categoria.
Fonte: portal G1, 15 de novembro de 2009