Quando o trânsito vira campo de batalha, só mesmo a polícia pra resolver. Em São Paulo, há três anos a PM recebia cerca de 40 telefonemas diários por causa de brigas de trânsito. Esse número, agora, quase dobrou: são mais de 70 casos por dia. Pelo menos 20 deles incluem agressões físicas. E esses são apenas os casos que chegam à polícia.
"O motorista que discute tem que entender o erro do outro. Será que ele nunca errou na vida? E outro detalhe, se errou peça desculpas. Um gesto com a mão alivia a tensão. Depois que começa a discussão, pode ser trágico e aí é caso de polícia", afirma Moisés, capitão da Polícia Militar.
Mas o que motiva essa atitude tão agressiva no trânsito? O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves, diz que algumas pessoas são mais propensas a se envolver em confusão, como quem já sai de casa armado. "É um comportamento doentio, ele está despreparado para fazer a prática da mobilidade sobre rodas. Precisamos contornar essa situação, rever esses motoristas e até afastá-los da atividade, dando um treinamento especial", afirma.
O médico estima que de 13% a 17% dos motoristas têm algum distúrbio psicológico ou psiquiátrico. Mas o trânsito pesado pode tirar qualquer um do sério e a postura de outros motoristas, às vezes, é a gota d"água.
Os médicos identificam três tipos de stress que deixam o motorista pré-disposto a explodir. O físico, que é o sono, o cansaço do dia a dia; o stress psicológico, que deixa tenso ao volante quem tem medo, por exemplo, de ser assaltado; e o stress social, que é ansiedade pelo tempo que se perde parado no trânsito.
"O ideal é que no tráfego se busque um lazer dentro do veículo. Fazer um alongamento, liberando no organismo endorfina, substância analgésica, que produz uma sensação de bem-estar", diz Dirceu.
Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, os jovens com idade entre 19 e 29 anos estão entre os motoristas que demonstram maior agressividade no trânsito.
Fonte: Jornal Hoje (TV Globo), 13 de julho de 2011