O engenheiro norte-americano Brian Lagerberg, que foi responsável pela implantação do programa de redução de deslocamentos Commute Trip Reduction (CRT), afirmou que a administração de Washington fez um investimento de US$ 2,5 milhões para melhorar o transporte coletivo da cidade a fim de estimular as pessoas a deixar os carros em casa.
Para aumentar as opções de transporte público, uma iniciativa foi colocar nas ruas cerca de 3 mil vans, por exemplo. Paralelamente, o governo se empenhou para estimular as empresas a se engajar na organização da carona solidária entre os seus funcionários. "Aos poucos, as empresas perceberam os benefícios e passaram a investir muito mais do que o Estado (em carona solidária)", afirmou. O número de viagens em carros caiu 16% após essas medidas.
Já o engenheiro Martin Lutz, que é diretor de Saúde e de Meio Ambiente do Senado alemão, contou a experiência das Zonas de Baixa Emissão de CO², que foram implantadas em algumas cidades europeias para reduzir os níveis de poluição. A administração de Berlim restringiu o tráfego de veículos mais poluentes e estabeleceu a implantação de filtros para reduzir a emissão de gases poluentes. Ele reconheceu que a redução do tráfego não foi notada, mas houve uma diminuição da poluição. "Não há uma receita para reduzir o trânsito, mas é possível fazer com que ele se torne mais limpo", disse Lutz, que afirmou andar 13 km de bicicleta diariamente para ir ao trabalho.
Lutz citou ainda, durante a palestra, iniciativas alemãs como a criação de um estacionamento de bicicletas nos metrôs e o estímulo à construção de ciclovias, lembrando que a cidade conta com três universidades e os estudantes não possuem condições financeiras de comprar um carro. "O desafio para o governo de São Paulo é convencer o cidadão de que uma mudança rápida (com a opção pelo transporte público) será para o seu próprio bem (...). O governo também pode usar o argumento para as empresas de que os congestionamentos lhes trazem prejuízos (para incentivá-las a estimular programas como a carona solidária, por exemplo)", declarou.
Mas engajar as empresas em iniciativas como flexibilização de horários ou mesmo estimulá-las a criar a carona solidária ainda não são práticas difundidas no Brasil, de acordo com Lincoln Paiva, diretor da Green Mobility, consultoria especializada em mobilidade sustentável. "É preciso envolver as empresas (nessa discussão), porque os congestionamentos têm impactos para todos, inclusive têm reflexos na produtividade (...). O que vejo até o momento são iniciativas pontuais, mas esse debate, de modo geral, ainda não faz muito sentido para elas (as empresas)", declarou Paiva.
Fonte: portal G1, 27 de agosto de 2010