Ainda que não haja uma política específica para estacionamentos na cidade de São Paulo, a tendência - ora em prática - é a redução sucessiva de vagas para estacionamentos em vias públicas.
De uma parte, vagas liberadas são transformadas em vagas pagas, ou seja, Zonas Azuis. Com limite de utilização por duas horas. De outra, vagas existentes são extintas, com proibição de estacionamento durante o dia.
O que se vem buscando não é apenas melhorar a fluidez com a proibição de estacionamentos em vias de maior movimento, mas desincentivar o estacionamento de longa permanência, durante o dia. As vagas públicas serão voltadas cada vez mais para a curta permanência.
O que as autoridades públicas esperam ou desejam é que o motorista que trabalhe em tempo integral num local deixe o carro em casa e use o transporte coletivo. Só usaria para a curta permanência, como para visitas familiares, compras, reuniões, consultas médicas etc. O tempo já seria maior para o caso de estudo, a não ser para programas de extensão ou pós-graduação.
Aquele que trabalha o dia todo num mesmo local teria as seguintes opções, diante da redução de vagas liberadas:
- chegar mais cedo para ocupar as poucas vagas liberadas disponíveis, como a mídia constatou, com pessoas chegando às 6 da manhã, para iniciar o expediente apenas às 8 horas, na região da Berrini;
- ocupar as vagas rotativas com troca sucessiva de cartões, o que acaba ficando muito caro e sujeito ainda a multas;
- ocupar vagas proibidas ou rotativas (sem cartão ou com cartão vencido), correndo risco de multa;
- deixar o automóvel em estacionamento pago mais distante do local de trabalho, mas mais barato;
- deixar o automóvel em estacionamento pago mais próximo do trabalho, embora mais caro;
- deixar o automóvel em estacionamento de transferência e utilizar o transporte coletivo para completar o percurso até o seu destino.
Talvez a última alternativa fosse deixar o carro em casa.
Aquele que estaciona o dia todo em via pública não é - no geral - um decisor de grande empresa, com grande volume de seguidores. A carência de vagas liberadas próximas à sua sede de trabalho não seria o principal motivo para uma mudança de local. Tampouco seria por reclamação dos empregados. Mas poderia ser por perda de clientes dadas as dificuldades de estacionamento desses.
Já micro e pequenos empresários seriam usuários habituais de estacionamentos liberados em via pública. Para eles o custo de estacionamento pago poderia levar o seu negócio a ser deficitário. Ainda que não fosse, reduziria os seus ganhos variáveis.
O seu dilema estaria entre mudar o local do seu estabelecimento, para ter maior facilidade de estacionamento gratuito, ou utilizar o transporte coletivo.
O Metrô e a CPTM estão com um programa de ampliação dos estacionamentos de transferência, com custos adicionais entre R$ 3,00 e R$ 4,00 em relação à tarifa do transporte. No entanto, o usuário tende a raciocinar com o desembolso financeiro. Nessa perspectiva, ele acha que ir de carro e estacionar em vaga pública liberada não custa nada. Esquece até mesmo de computar o abastecimento do veículo.
Enquanto o usuário puder contar com a possibilidade de vagas gratuitas próximas (ou não tão distantes) do seu local de trabalho, preferirá essa a estacionar em garagens de transferência.
O estacionamento de transferência só ganhará maior demanda se o usuário tiver dificuldade de estacionamento gratuito próximo ao seu trabalho.
O que poderia levar a uma política de restrição das vagas liberadas em via pública próximas às estações de destino do Metrô ou da CPTM.
O problema está em caracterizar o que é uma estação de destino, pois algumas delas poderiam ser também de forte origem.
Os resultados da pesquisa OD (Origem-Destino) de 2007 poderá ajudar nessa percepção.
De toda forma, a redução das vagas liberadas em vias públicas nas áreas de maior destino, no período da manhã, próximas a estações do metrô ou da CPTM, juntamente com o aumento dos estacionamentos de transferência, poderá contribuir para a redução dos carros em circulação e das viagens por automóvel.
Essa poderá ser a política de estacionamentos de maior eficácia, dentro do objetivo de reduzir as viagens por automóvel, transferindo-as para os meios coletivos.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.