Os centros tradicionais das regiões metropolitanas mais antigas tendem a se deteriorar, como ocorreu com o Centro de São Paulo. A razão principal está na sua estruturação anterior à "era do automóvel" e a dificuldade de se ajustar a ela.
Com isso, a perda de funções urbanas municipais ou metropolitanas, que migram para outras áreas da própria região, esvaziando o uso e ocupação da área central.
Volta e meia se busca a sua recuperação ou revitalização, com base no fato de que é uma área bem servida de infraestrutura.
Ocorre que, com o desenvolvimento da cidade, outras áreas são tão ou mais bem servidas de infraestrutura urbana do que o centro tradicional. Há igualdade na infraestrutura de saneamento. Já quanto às telecomunicações, áreas novas têm redes mais modernas e mais eficientes do que o centro tradicional.
Se a prioridade for o transporte coletivo, o centro tradicional estará melhor servido, como legado de uma função polar. Se for visto pelo transporte individual, o Centro perde na infraestrutura de acesso para as novas áreas.
Se o conceito é a baixa ocupação ou utilização da área central em função da disponibilidade de infraestrutura, poderão ser encontradas outras áreas dentro da cidade com produtividades iguais ou até menores. Mas sem o componente emocional que cerca o centro tradicional. Como o próprio nome diz, pela tradição.
Recuperação dá idéia de recompor o que existia antes. Revitalizar, o sentido de retomar a dinâmica anterior.
O que cabe indagar, no entanto, é se a intervenção no centro tradicional deve objetivar o restabelecimento das funções anteriores ou se deve buscar uma nova vocação para o centro tradicional.
Dentro da evolução da região metropolitana ainda cabe um centro principal com atividades metropolitanas diferenciadas das demais? Ou a estruturação urbana será cada vez mais de uma rede de polos, que se complementam sem uma relação hierárquica?
No centro tradicional de São Paulo só restaram duas funções supralocais: a Bolsa de Valores, que tem âmbito nacional, e a Justiça Estadual de Segunda Instância. Das regionais federais, apenas a Receita Federal se mantém no centro tradicional.
O conceito de renovação ou reconstrução urbana pode ser entendido como uma medida para uma nova função ao centro tradicional.
No caso da Nova Luz, o conceito pode ser de revitalização ou recuperação, ou de renovação. Como as funções tradicionais se perderam há muito tempo, o caso é de renovação. Qual será ou deveria ser a função urbana da Nova Luz?
Quais as funções em que a área pode ser competitiva em relação a outras áreas da cidade?
As estações ferroviárias são uma vantagem ou um obstáculo?
Uma perspectiva sempre presente é que a área se transforme num polo de tecnologia da informação.
Ocorre que a cadeia da tecnologia da informação é muito ampla, envolvendo as atividades de geração de softwares, produção de hardware, comercialização de serviços e de produtos, escritórios sede das empresas etc.
O que se instalará na área?
E por que se instalaria ali e não em outro lugar?
Dentro da cidade de São Paulo, qualquer projeto de ocupação e utilização deverá levar em conta a sua competitividade em relação a outras áreas, para as funções urbanas desejadas.
A disponibilidade de estacionamentos e seus valores é sempre um fator relevante de competitividade de uma determinada área urbana em relação a outras.
Por mais que se enfatize o transporte coletivo, o acesso, a mobilidade e o estacionamento de automóveis continuam sendo nas modernas cidades condições fundamentais para o seu desenvolvimento.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.