O cálculo é feito com base na nova regra em vigor para os caminhões, responsável pela retirada de cerca de 200 mil desses veículos do Centro, permitindo uma redução de até 32% nos índices de congestionamento durante o dia. No entanto, segundo os técnicos, tais medidas devem ter curta duração. E explicam: o número de carros não para de crescer e logo eles deverão ocupar os espaços deixados pelos caminhões e pelos ônibus fretados. Estima-se que de 300 a 500 novos carros entram por dia nas ruas da Capital. Cada carro em movimento, a 30 km/h, ocupa área de 40 m². Na prática, significa dizer que a batalha pelo espaço nas ruas seria vencida pelo automóvel, embora na guerra do trânsito o maior derrotado seria o motorista.
Técnicos ouvidos pelo Diário do Comércio projetam o seguinte o cenário para uma cidade sem caminhões ou ônibus fretados: presos em engarrafamentos crescentes, os motoristas tenderiam a procurar um novo culpado pelo caos e, basicamente, só encontrariam carros. À razão de 300 a 500 novos carros/dia nas ruas, esse motorista poderia, finalmente, perceber que é um dos culpados pelos congestionamentos. "Hoje, a velocidade média em São Paulo é de 22 km/h. Se esse número cair para algo em torno de 15 km/h, os próprios motoristas poderão apoiar uma redução no volume de automóveis em circulação", avaliou Eduardo Alcântara Vasconcellos, diretor do Instituto Movimento e assessor técnico da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP).
Contudo, nas recentes pesquisas de opinião pública sobre a viabilidade do pedágio urbano, o tema é tratado com certa desconfiança pelo paulistano. Em setembro de 2008, por exemplo, pesquisa da ONG Movimento Nossa São Paulo indicou que 74% dos paulistanos eram contrários ao pedágio urbano. No entanto, é preciso considerar que essa rejeição já foi maior: em 2007, 84% dos pesquisados eram contra o pedágio. Mesmo assim, a Prefeitura não pensa em adotar o pedágio urbano, apesar de a alternativa colecionar simpatias entre técnicos do governo do Estado. Uma leitura mais atenta dessa e de outras pesquisas sobre pedágio urbano indica um cenário ainda mais favorável à sua adoção: curiosamente, boa parte dos paulistanos não é contra a medida, desde que haja uma substancial contrapartida: uma competente e farta oferta de transporte público.
O prefeito Gilberto Kassab e o governador José Serra reconhecem que ônibus e metrô ainda devem em volume de atendimento. Por isso, não consideram a adoção do pedágio, que, fatalmente, acrescentaria milhares de pessoas ao transporte público. Somente no Metrô são 3,3 milhões de usuário/dia, sendo que seis pessoas ocupam, em média, um metro quadrado de vagão. É claro que nos horários de pico essa média pode ser ainda maior.
A frota de ônibus gira em torno de 15 mil unidades, mas não são raras as cenas de pessoas dependuradas nas portas dos coletivos. "É preciso melhorar o transporte antes de se adotar o pedágio. Já pensou se estoura uma greve? Sem pedágio, a cidade viraria de cabeça para baixo; imagine com pedágio", disse em Brasília o urbanista e coordenador da ANTP, Nazareno Stanislau Affonso.
O arquiteto e urbanista Cândido Malta Campos Filho defende o pedágio urbano desde que acompanhado da concomitante implantação de linhas de micro-ônibus. "Na verdade, o paulistano já paga uma espécie de pedágio. São quase R$ 17,00, considerando-se a depreciação do carro e problemas de saúde gerados pelo estresse. Proponho um pedágio de valor menor, equivalente a US$ 2, capaz de render quase US$ 600 milhões aos cofres públicos, dinheiro que poderia ser investido na expansão do metrô. Ao mesmo tempo, abriria espaço para um modelo de micro-ônibus que cobraria uma tarifa 80% maior do que a atual, de R$ 2,30", disse Malta. O vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Mateus Ordine, afirma que o tema pedágio urbano precisa passar por um grande debate. "Antes de pensar em pedágio é preciso aumentar a oferta de transporte público", opinou.
Fonte: Diário do Comércio (SP), 27 de julho de 2009