Parking News

Há pouco mais de sete meses, o publicitário Mariano Archangelo, de 26 anos, esbanjava saúde. Nas horas de folga, praticava surfe e futebol. Sua vida mudou completamente no último dia 19 de dezembro. Durante uma briga no trânsito, levou um tiro na testa, disparado pelo motoqueiro com quem o amigo dele, que estava ao volante, discutiu. O fugiu e a bala atingiu Archangelo, que estava sentado no banco de trás.
Os poucos segundos de fúria do condutor da moto têm custado meses de recuperação a Archangelo. Para retirar o projétil que havia se alojado em seu crânio, estancar uma hemorragia e remover estilhaços de osso do cérebro, o publicitário passou por duas cirurgias. Ficou 47 dias internado. Quando saiu do hospital, não conseguia andar nem falar. Começou a conversar em fevereiro e só voltou a ficar de pé em março, após muitas sessões de fisioterapia. Deu seus primeiros passos apenas em abril. Tem as pernas e os braços rígidos e caminha com extrema dificuldade.
Conflitos por motivos banais são rotina no trânsito paulistano. O Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), o 190, registra, em média, 20 ocorrências desse tipo por dia. A revista Veja São Paulo acompanhou o trabalho dos atendentes, que recebem 35.000 ligações diárias - de trotes a denúncias de homicídio. Foram 29 chamadas relatando confusões entre motoristas. "As sextas são os dias em que elas mais ocorrem, porque os congestionamentos aumentam e o stress das pessoas, também", afirma o tenente Cleodato Moisés, chefe do atendimento 190. "Resolvemos a maioria dos casos por telefone, sem enviar viatura." Normalmente, os policiais orientam o condutor a anotar a placa do outro veículo e a deixar imediatamente o local. Com os dados registrados, pode-se localizar o proprietário do carro depois, se for necessário. Em algumas situações, no entanto, a presença da PM é imprescindível.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em 23 países, há seis anos - o Brasil não foi incluído -, apontou que 66% dos americanos e 48% dos europeus já se envolveram em incidentes relacionados à direção agressiva. Os engarrafamentos são a fonte número 1 de irritação para 61% dos 1.500 motoristas de oito capitais brasileiras, incluindo a paulista, ouvidos em um levantamento de 2006 da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito (Abramcet). Os que mais se incomodam são os que rodam em São Paulo. No Brasil, não existem estatísticas sobre agressões no trânsito nem punições específicas para elas.
Quem está irritado se envolve duas vezes mais em situações de risco e comete até o quádruplo de agressões ao volante, segundo um estudo do psicólogo americano Jerry Deffenbacher, da Universidade de Colorado.
Perder a compostura ao menos uma vez na vida é algo que pode acontecer com qualquer um. Mas, se os ataques de fúria se tornam recorrentes ou são desmedidos, deve-se ficar alerta. Os conhecidos pavios curtos correm o risco de sofrer da doença chamada transtorno explosivo intermitente. Desde o ano passado, o Ambulatório dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas (HC) mantém um grupo para tratar apenas desse tipo de comportamento.
As agressões físicas e verbais a alguns dos 1 900 marronzinhos servem como medida da fúria dos paulistanos. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) recebe, em média, oito registros mensais de insultos, ameaças, desobediência ou injúrias. Lesões corporais são menos comuns. Nos últimos quatro anos, 47 casos do tipo foram computados.
Ao volante, a pessoa se torna anônima e tem a sensação de que jamais vai cruzar novamente com quem brigou. Além de ser usada como armadura, a lataria impede o contato olho no olho, o que não raro dá margem a mal-entendidos. Autor do livro "Por que Dirigimos Assim", o americano Tom Vanderbilt usa uma analogia para explicar esse comportamento. Estar no trânsito é como participar de uma sala de bate-papo on-line usando um pseudônimo, que, no tráfego, seria a placa dos carros. Em ambos os casos, as regras de convivência são deixadas de lado.
Como fugir de confusões
- Tente sair de casa sempre com alguma antecedência, contando com imprevistos pelo caminho
- Evite guiar quando estiver nervoso ou após uma discussão. Concentre-se em dirigir e resolva os outros problemas depois
- Deixe o celular de lado enquanto estiver ao volante. Além de ser uma infração, falar enquanto se está dirigindo distrai e pode causar acidentes que sempre são fonte de discussão
- Em vez de amaldiçoar o congestionamento, encontre maneiras de torná-lo menos maçante. Músicas e audiobooks ajudam a desanuviar os pensamentos
- Buzinar milhares de vezes não vai fazer o trânsito fluir. Não manifeste sua raiva ferindo os ouvidos alheios
- Pense em quantas vezes você já fechou alguém, se esqueceu de dar seta ou cometeu os erros que tanto o incomodam no tráfego
- Respeite as leis de trânsito. Sinalizar ao mudar de faixa e evitar costurar são atitudes valiosas para não se envolver em brigas
- Seja educado. Se pedirem passagem, dê. Não faça gestos obscenos nem diga palavrões. Evite dar luz alta na traseira dos carros
- Não é preciso pegar os contatos do motorista que bateu em seu carro. Anote a placa do veículo e saia do local. Leve o número para uma base da Polícia Militar, que pode apontar o proprietário
- Caso queira pegar o telefone do outro motorista, desobstrua a via e encoste o veículo em um local onde seja permitido estacionar
E se a briga começou...
- Não encare o opositor. O olho no olho é visto como um sinal de provocação mútua
- Evite discussões e siga seu caminho, ainda que lhe pareça injusto
- Jamais responda a agressões no trânsito. Caso alguém o ameace, ligue para a Polícia Militar (190). Um policial vai orientá-lo e uma viatura pode ser enviada ao local
- Ao menor sinal de desentendimento, aumente a distância em relação ao outro carro
- Não freie nem faça manobras bruscas. Pode parecer uma afronta
- Não caia em provocações. Tente entender que a outra pessoa também está com raiva
- Peça desculpas, mesmo estando com a razão.
Fonte: Veja São Paulo, 29 de julho de 2009

Categoria: Geral


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