Era ali a casa de Francisco Matarazzo, industrial de quem aquele senhor dizia ter sido motorista. É a mesma área que ganhará prédio comercial e shopping center capazes de atrair mais de mil carros em uma hora na engarrafada região da Paulista, informa a Folha de S. Paulo.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) aprovou no dia 2 a certidão de diretrizes da futura Torre Matarazzo, no terreno mais cobiçado da via, alvo de disputas nas últimas duas décadas.
A emissão do documento era analisada desde 2006. Ele dimensiona os impactos e ações para mitigá-los. Para os empreendedores, é passo fundamental para a obra ser aprovada pela prefeitura.
O braço da Cyrela que cuida do novo edifício comprou a área há três anos, junto com a Camargo Corrêa, por R$ 125 milhões. Ele já avisou os acionistas sobre a expectativa de começar as obras ainda neste ano - para terminá-las até março de 2014.
Estacionamento
O estudo da CET avaliou que, pela manhã, a nova torre deve atrair 1.090 carros na hora mais movimentada - um a cada três segundos.
No rush da tarde, 788 veículos chegando e 1.148 saindo em apenas uma hora.
"É suficiente para matar uma das quatro faixas da Paulista. O nó que já existe vai ficar mais apertado", afirma Horácio Figueira, mestre em engenharia pela USP.
Parte da demanda pode ir para a Pamplona e São Carlos do Pinhal. Pela certidão de diretrizes, as construtoras terão de alargá-las, assim como investir em semáforos, sinalização e travessias.
A CET decidiu acatar a proposta dos empreendedores e fixar em 1.557 as vagas de estacionamento para carros. Significa 34% mais do que seria exigido pela legislação.
O que pode parecer uma solução para agilizar a entrada e saída dos motoristas é um problema, na avaliação do urbanista Candido Malta.
"Vaga de estacionamento no destino das pessoas é uma facilidade que só estimula mais veículos na rua", diz ele, que destaca a oferta de metrô na própria avenida.
"Não adianta oferecer mais vagas de garagem se não existe margem para ampliar a capacidade do espaço viário", reforça Jaime Waisman, professor da Poli/USP.
Técnicos citam a opção de exigir gastos no transporte coletivo. Figueira sugere embarque de ônibus dentro do terreno e oferta de serviços circulares na vizinhança.
Fonte: Folha de S. Paulo, 19 de setembro de 2010