A ausência de transporte coletivo em condições satisfatórias favorece o crescimento da frota de veículos particulares. Os carros se multiplicam, há pouquíssimos estacionamentos particulares e o motorista tem que fazer malabarismo para conseguir parar temporariamente seu veículo.
Aqueles que usam o carro para suas ações rotineiras, como compras em feiras, supermercados e levar filhos em colégios, congestionam o trânsito já abarrotado de ônibus, vans, táxis etc., tornando difícil o fluxo e exigindo mais áreas estacionamento temporário. Como conseqüência, surgiu a figura do "flanelinha", pessoas humildes que vendem proteção, ajudam a estacionar, oferecem lavagem, limpeza, polimento ou um simples "deixe que eu reparo, patrão!".
O guardador se propõe a não permitir roubos ou danos, oferece segurança em troca de pagamento, geralmente de R$ 1 ou R$ 2, dependendo do tempo de estacionamento ou de outros serviços. São desempregados, com grau de instrução rudimentar, que labutam para sustentar família, trabalhando sob sol e chuva para amealhar entre R$ 10 e R$ 20 diários.
Um dos mais antigos flanelinhas de Belém chama-se Paulo Vicente Gonçalves Tavares, 57, casado. Conhecido como "Pombinho", trabalha há 37 anos nesta atividade, com aproximadamente 16 colegas, na Praça da Bandeira.
Filiados à Associação dos Lavadores e Reparadores de Carro de Belém, uma organização social estruturada pelos mesmos, embrião provável do futuro sindicato da classe e cadastrada nas polícias Militar, Civil e na Companhia de Transportes de Belém (Ctbel), cada um paga R$ 2 por semana para a associação.
A maioria trabalha das 8h às 18h ou 1h. Pombinho informa que em todo o Centro Comercial existem cerca de 1.080 flanelinhas cadastrados. Mas a maioria - outros milhares de guardadores - está dispersa em áreas menores e não fazem parte de nenhuma associação, não tem carteira assinada e vivem sob a ameaça de perder a ocupação.
Hoje, em qualquer rua movimentada encontrar vários deles. Em alguns destes locais aparecem arrombadores de carros. Transgressores infiltrados no meio dos guardadores honestos foram recentemente identificados e presos.
Vários proprietários de carros se revoltam e não aceitam pagar pelo estacionamento temporário, entre eles Antônio Souza, 46. Como se desloca durante o dia para vários locais, ele reclama: "Se toda vez que parar tiver que pagar para o flanelinha, vou gastar muito durante o mês".
Alguns destes vendedores de proteção atuam como se fossem donos do estacionamento e hostilizam o motorista quando ele nada paga. O tratamento aos conhecidos é doutor, barão, patrão, chefe, general. Já os que se recusam a pagar são taxados de madeira e miserável.
Associação denuncia irregularidades no transporte intermunicipal
"Todo o sistema de transporte intermunicipal do Estado está irregular". É o que afirma Leandro Borges, coordenador da Associação dos Usuários de Transportes das Empresas Prestadoras de Serviços Públicos do Pará (Autrabel).
Na última sexta-feira, foi protocolada uma quarta representação no Ministério Público do Estado (MPE) contra a Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos do Pará (Arcon). "Três delas referem-se às taxas cobradas pela Arcon para a utilização de banheiros, para embarque e até taxa de acompanhantes", explica Leandro.
De acordo com a denúncia mais recente, o Conselho Estadual de Regulação e Controle dos Serviços Públicos da Arcon (Conerc), responsável pelo reajuste das tarifas, está inoperante há três meses, mas o valor das taxas continuam aumentando.
A Autrabel também reivindica a nomeação de um presidente para o conselho e uma regulamentação para a Lei nº 6.838, do ano passado, que determina a criação da Arcon e do Conerc. O conselho está sem presidente há dois meses.
O diretor-geral da Arcon, Carlos Acatauassú Nunes, o conselho não está funcionando por uma decisão judicial e admite que o reajuste das tarifas está sendo feito sem a aprovação do conselho. "Ainda assim, os reajustes estão de acordo com a lei", argumenta, "isso garante a eficiência dos serviços e evita que algumas empresas parem. As taxas ponderam diversos fatores relacionados ao transporte intermunicipal, entre eles as condições do trecho de estrada percorrido, a extensão, o tempo de viagem e o preço do combustível".
Fonte: O Liberal (Pará), 04 de março de 2007