Um dos principais fenômenos urbanos, praticamente inexoráveis, é o envelhecimento da população, como decorrência da maior longevidade e da contenção dos nascimentos.
As famílias tendem a conter o número de filhos. A tendência é ainda maior em função do nível de renda.
Há a emergência de uma nova classe C: com maior poder aquisitivo sustentando o crescimento econômico. Um dos seus efeitos é e será a redução do tamanho da família. Na prática, o melhor mecanismo de controle da natalidade é a melhoria da renda.
Na outra ponta, as pessoas vivem mais. Do ponto de vista estatístico, isso é caracterizado como "envelhecimento da população", com maior peso relativo dos mais velhos na composição da população urbana.
Associando isso ao volume de produção e vendas de carros, significa que mais pessoas estarão circulando na cidade com o seu automóvel e requerendo mais vagas de estacionamento.
A população da cidade de São Paulo tende a decrescer, no conjunto, porém a população motorizada continuará a crescer.
A partir de 2014, levando em conta as projeções do Seade, a população do município de São Paulo começará uma trajetória de decréscimo.
Mas o volume total de motoristas continuará crescendo, seja pela sobrevivência dos atuais, como pela incorporação de novos contingentes.
Qual será o impacto desse envelhecimento da população de motoristas na frota de veículos, na (i)mobilidade urbana e nos estacionamentos?
O grande objetivo mais recente do planejamento urbano é diminuir as distâncias e os trajetos na movimentação urbana, fazendo com que a população more mais perto do trabalho, das compras, das atividades escolares, do atendimento à saúde etc.
As novas verticalizações buscam essa redução, promovendo uma segmentação urbana. Para os críticos, uma segregação urbana.
Numa cidade de intensa motorização, há sempre necessidade de - ao menos - duas vagas por veículo. Uma na origem e outra no destino.
Com a aproximação dos locais das atividades urbanas, uma das vagas poderá ser eliminada pelos acessos e movimentação a pé, ou por veículos não motorizados, como a bicicleta.
Como essas mudanças irão influir no conjunto da mobilidade urbana e na demanda dos estacionamentos?
Os impactos serão diferenciados. Nas novas áreas de ocupação comercial, a tendência já é de atração de empreendimentos residenciais próximos. Já na área central, o processo é outro.
O envelhecimento da população residente na área central poderá ser mais intenso, pela resistência dos moradores em sair da sua casa tradicional, enquanto os mais jovens migram para outras regiões. Os filhos das famílias moradoras no Centro quando se casam não ficam no Centro.
A população motorizada tende também a cair, reduzindo a demanda por vagas na origem. A carência de vagas na origem é uma das razões do esvaziamento do Centro. O que, aparentemente, poderia ser revertido pelo uso 24 horas dos estacionamentos.
Já as vagas de destino tenderão a diminuir com a maior integração das linhas metroviárias.
As tendências deverão ser adequadamente monitoradas para uma avaliação do futuro da atividade de estacionamentos, considerando as ameaças e as oportunidades.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.