De acordo com especialistas, a atuação do poder público no planejamento e no investimento do setor de transportes é tímida.
A capital possui mais de 900 itinerários para cerca de 8.000 ônibus que circulam mal distribuídos pela cidade - 25% de excesso na frota, diz a Secretaria Municipal de Transporte. Empresas incham áreas mais ricas, como a zona sul, enquanto faltam veículos nas mais pobres e distantes.
O gasto excessivo com a disputa faz com que 16 das 41 empresas de ônibus ofereçam serviço de baixa qualidade, segundo dados da secretaria. Atendem a população com veículos quebrados, transitando em alta velocidade e até deixando de recolher passageiros.
O uso do transporte público (74% das viagens) é considerado alto por especialistas. Mas o que para as autoridades mostra "confiança" da população no setor é, para eles, reflexo da condição econômica. Com a melhoria da renda, inicia-se a fuga para o transporte individual.
Entre 2001 e 2010, a frota de automóveis no Rio subiu 34% - contra 24% em São Paulo. No caso das motos, houve uma explosão de 151%.
"O usuário de moto é o antigo usuário de transporte público. O crescimento dele é perigoso", diz Eleonora Pazos, representante da Associação Internacional para o Transporte Público na América Latina.
De acordo com estudo da Firjan (Federação das Indústrias do RJ), os engarrafamentos em horário de pico já somam 94 km, contra 55 km em 2003. Sem investimentos, chegariam a 184 km em 2016, ano da Olimpíada na cidade.
Na avaliação de especialistas, o cenário atual é fruto da ausência do poder público em planejar e fiscalizar o setor.
Apontados como a melhor opção para o transporte nas grandes cidades, metrô e trem respondem só por 8,6% das viagens e sofrem com o atraso de 12 anos de investimentos.
A Supervia, por sua vez, opera com quase um terço dos trens (30%) inadequados, o que torna o sistema pouco confiável. A empresa se ofereceu para participar de um plano de investimento, pela renovação da concessão.
Fonte: Folha de S. Paulo, 29 de abril de 2010