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Começou dia 3 em Moema, na Zona Sul da capital, a mudança de regras para estacionar nas ruas do bairro. Foram eliminadas 3.850 vagas gratuitas e criadas 1.072 rotativas de Zona Azul. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o objetivo é melhorar a fluidez do trânsito. Especialistas em tráfego e urbanismo entrevistados pelo Diário de S. Paulo defendem que o sistema de cobrança para as vagas democratizam o uso do espaço público pelos motoristas, pois a Zona Azul obriga a rotatividade dos pontos de estacionamento. Para o arquiteto e urbanista Candido Malta, a mudança de Moema é positiva para o comércio. "Ela faz com que haja um rodízio maior do espaço público. O cliente chega, para o carro, faz as compras e vai embora", explicou o especialista. "Com a melhora do trânsito, mais gente vai passar pelas ruas da região."
A melhora no trânsito de Moema foi nítida logo no primeiro dia da mudança. A presidente da Associação dos Amigos de Moema, Lígia Horta, porém, demonstra preocupação quanto ao aumento de velocidade dos veículos. "As ruas ficaram mais livres e existe o risco de atropelamentos. Os carros devem andar mais rápido. Os moradores não estão acostumados com isso", disse.
Já o consultor Horácio Augusto Figueira defende as melhoras no tráfego, graças a essas intervenções. "Sempre é benéfico privilegiar quem está trafegando do que os veículos que estão parados. O trânsito nessas vias geralmente tem bons ganhos de fluidez", afirmou. Porém, o especialista critica a readequação por privilegiar o uso do transporte individual. "Deveria haver uma preocupação maior com a fluidez dos ônibus." Já o especialista em trânsito Joseph Barat ressalta que a mudança nas regras de estacionamento não resolve o problema da oferta de vagas. "Isso é um problema sério, que não tem como mensurar. Com a facilidade para comprar carro e todo mundo querendo usar o seu, a pressão da demanda é muito forte. Tem que haver uma alternativa para se usar menos o carro."
O programa de readequação das regras de estacionamento começou em agosto de 2008, nos Jardins, Zona Oeste da capital. Segundo a CET, o trânsito nas vias do bairro melhorou 30%. Quem trabalha por ali diz que o tráfego está melhor, mas reclama dos preços dos estacionamentos. "Tem lugar que chega a cobrar R$ 18 a primeira hora. Sempre tem alguém reclamando", afirmou Milson Carvalho, manobrista de uma garagem na Alameda Lorena.
Grande fluxo de carros
Outras regiões que passaram pela readequação do tráfego foram Pinheiros e Itaim Bibi, na Zona Oeste; Anália Franco, Zona Leste; Rua 25 de Março, Centro, e Rua Afonso Brás, na Vila Nova Conceição, Zona Sul. "São áreas onde há um fluxo grande de veículos e que mesclam zonas de comércio, serviços e habitação. A região do Tatuapé, na Zona Leste, deve ser uma em que pode haver esse programa em breve", disse o arquiteto e urbanista Candido Malta. Segundo a CET, a alteração das regras de estacionamento é baseada em estudos que consideram os gargalos de trânsito e a demanda por vagas.
Moema com trânsito bom
No primeiro dia de implantação da novidade, moradores e comerciantes se posicionaram contra a inovação. Por outro lado, motoristas e estacionamentos privados elogiaram a iniciativa. Independentemente da posição, o que se viu foi uma mudança brusca no bairro de alto padrão. Poucos veículos estacionaram nas vias de Moema e o trânsito fluiu melhor. Moradora há dez anos na região e comerciante do bairro, Márcia Maria disse que a transformação alterou de maneira negativa a rotina da região. "Moema é um lugar onde as pessoas estão acostumadas a parar o carro na rua e visitar os diversos comércios. Com a nova prática, já notamos que foi perdido esse hábito. Também fica difícil agora recebermos a visita de amigos e meu comércio já perdeu hoje muito movimento", afirmou Márcia, dona de uma loja de artesanato na Rua Sabiá. A opinião é compartilhada pela proprietária de uma banca de jornal situada na Rua Lavandisca, Madalena Rabelo, que trabalha há 30 anos na região. "O movimento caiu tanto que hoje parece feriado prolongado", concluiu a jornaleira.
Sites de rádios especializadas em trânsito relataram que alguns motoristas estacionaram em locais proibidos, apesar da presença de fiscais da CET. Apesar das críticas, houve também elogios com o novo sistema. "Nunca vi o trânsito fluir tão bem quanto hoje. Deveriam ter feito isso há mais tempo", afirmou o gerente administrativo Renato Durval Queirós, que trabalha no bairro.
Os estacionamentos particulares estão soltando rojões. Afirmaram que a procura triplicou desde o dia 30 de abril. Muitos aproveitaram para aumentar os preços. No estacionamento Flash Park, na Rua Arapanés, antes se pagava R$ 10 por duas horas, agora é o mesmo valor por uma hora apenas. Também não há mais lugar para mensalistas. "Muita gente que colocava o carro na rua procurou o nosso serviço", disse o funcionário Edson Silva.
Talão virtual não pega
A CET colocou em teste dois sistemas eletrônicos de cobrança da Zona Azul em dezembro de 2008. Os projetos dispensavam as folhas nos painéis dos carros. Nas ruas dos Jardins e da região de Cidade Jardim, na Zona Oeste, o usuário deveria comprar um cartão eletrônico, que permitia o acesso ao sistema da Zona Azul, ou usar uma central telefônica. Já na Praça Charles Müller, no Aeroporto de Congonhas e no Largo do Arouche, o motorista pagava o estacionamento rotativo através do cartão de crédito. Os agentes da CET também fariam a consulta do veículo que não tivesse a folha de Zona Azul no painel de forma eletrônica. O marronzinho ligava para uma central, que checaria se o carro tinha créditos para o uso da vaga. O fim da fase de testes estava previsto para meados do ano passado, mas até hoje os sistemas não foram implantados no resto da cidade.
Fonte: Diário de São Paulo, 4 de maio de 2010