O estudo, realizado em 2007, aponta que mais de 819 mil moradores saem do extremo da Zona Leste, como Cidade Tiradentes e Itaim Paulista, e cerca de 1 milhão deixam bairros como Parelheiros, Grajaú e Cidade Líder, na Zona Sul, para trabalhar. Esses "distritos dormitórios" possuem pouca ou nenhuma oferta de emprego, como o Diário mostrou em reportagem no dia 16 de maio. "Do jeito que a cidade se encontra, com o problema do trânsito se agravando rapidamente, você tem de pensar em soluções mais rápidas e baratas. Não dá para esperar o Metrô", apontou Flamínio Fichmann, consultor de transportes e especialista em mobilidade.
Apesar de bairros próximos liderarem o destino final dos passageiros, 17,1% dos trabalhadores de Cidade Tiradentes e entorno precisam rodar os 35 km que separam a região do Centro. A distância se torna pequena quando observado que 5,7% dessas pessoas vão ainda mais longe, a bairros como Vila Mariana e Moema. Já outros 1,3%, encaram quase que a distância de São Paulo para Campinas (a 72 km) para poderem trabalhar em outros bairros da Zona Sul, como Santo Amaro.
Com mais de 400 mil habitantes, o extremo da Zona Leste faz seus moradores gastarem uma média de quase três horas no transporte público, indo ou voltando para suas casas. A Prefeitura tenta mudar o cenário, incentivando empresas a se instalarem em Itaquera. A criação da Operação Urbana na Avenida Jacu Pêssego busca o mesmo objetivo.
O inverso também acontece, em menor escala. Apenas 0,28% deixam a região do Grajaú para explorar o extremo da Zona Leste diariamente. Como a região conta com importantes pólos de comércio próximos, como o Largo 13, as viagens para Santo Amaro somam 47,6% contra apenas 7,9% para o Centro.
Apesar de mais próximas do Centro, outras regiões, como a Noroeste e Norte, também demonstram em números sua pouca opção em trabalho. Apenas 5,8% e 6,7% viajam, respectivamente, para essas regiões com a finalidade de trabalhar - os índices mais baixos da capital. "Em uma cidade melhor planejada, com plano diretor compatível, sempre se procura colocar a massa trabalhadora próxima aos locais de empregos e até de educação e serviços públicos", apontou Fichmann. No Brasil, regiões com diversas opções de empregos têm baixo índice de habitação. Na Sé, por exemplo, os dados da pesquisa apontam 7,8 mil vagas em escola e 91 mil empregos para uma população de apenas 2 mil pessoas.
Site oferece troca de casas
Com o trânsito caótico da capital, para poder chegar rápido ao trabalho, só morando perto dele. O caixa está curto para comprar uma casa nova? Isso não é mais problema: em quase dois anos, quando entrou no ar o site "Troca de Imóveis", criado pelo engenheiro João Alvarino Gabriel, o serviço já tem mais de 4 mil cadastrados. E a maior procura é justamente por quem quer deixar a periferia para morar mais próximo do emprego. "Percebemos que há um público grande para isso e, rapidamente, conseguimos montar uma base de dados por toda a cidade, outras capitais do Brasil e até do exterior", disse Gabriel, agora corretor, que tem apoio do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci).
Até brasileiros que moram em Portugal e no Japão já se mostraram interessados em trocar imóveis com paulistanos. Segundo Gabriel, casas e apartamentos próximos das estações de Metrô são os mais procurados. Em troca, o maior número de opções oferecidas está na Zona Sul, em bairros como Jabaquara e Aeroporto, considerados mais tranquilos, mas afastados do centro e outros locais de trabalho habituais de São Paulo.
Fonte: Diário de São Paulo, 22 de maio de 2010