Em alguns lugares, entregar as chaves na entrada chega a custar 20 reais, mais do que alguns itens de seus respectivos cardápios. "Somos reféns da situação", diz Sergio Kuczynski, proprietário do Arábia, na Rua Haddock Lobo. A empresa responsável pelos manobristas que atendem o estabelecimento reajustou recentemente o valor de 15 para 17 reais. "Tento negociar com eles para evitar penalizar os clientes, mas acabo ficando de mãos amarradas." Pelo jeito, a conversa não vem mesmo funcionando. Em 2001, no mesmo Arábia, o serviço saía por 6 reais. Se essa taxa fosse corrigida apenas pela inflação acumulada no período (88%), deveria custar hoje pouco mais de 11 reais. O que justifica tamanho disparate?
As empresas especializadas acham que têm boas razões para aplicar esses aumentos salgados. "Não dá para cobrar menos de 15 reais: entre outras despesas, há investimentos no treinamento dos funcionários para que eles cuidem bem dos carros", alega Edi Carlos Lobo, dono da Kakau Park, responsável pela maioria dos valets na movimentada Rua Amauri, no Itaim. A declaração é quase espantosa, pois o atendimento, ainda mais pelo que custa, deixa muito a desejar. Sobram reclamações de prejuízos provocados pelos manobristas, que vão de pequenos riscos na lataria até problemas mais graves, como o furto de materiais deixados nos automóveis, isso para não falar do tempo de espera - tanto para a entrega do carro como quando se pede uma nota fiscal, que deveria ser fornecida automaticamente. "Falta regulamentação para esse mercado", aponta Carlos Augusto Dias, advogado da Associação Nacional de Restaurantes. "O ideal seria termos critérios mais transparentes para os reajustes."
Alguns restaurantes optaram por eliminar o intermediário no negócio. No Leopolldo, no Jardim Paulistano, por exemplo, os veículos ficam no estacionamento do prédio onde a casa está localizada. Isso ajuda a diminuir o valor do serviço para o cliente, certo? Errado. A tarifa no local é de espantosos 20 reais. "Os carros são guardados em uma garagem coberta e com seguro, sem falar no custo de manutenção dos funcionários", justifica Chico Lima, sócio da casa.
Reis, do Chakras: sem intermediários
Miguel Reis, proprietário do Chakras, no Jardim Paulista, buscou uma alternativa semelhante. "Tive muitos problemas com empresas especializadas e há dois anos resolvi assumir a responsabilidade, oferecendo sozinho o serviço", explica o empresário, que também cobra dos comensais uma taxa de 20 reais. "Eu não lucro absolutamente nada com isso, de vez em quando fico até no vermelho com essa operação." A bem da verdade, diante da situação atual, o prejuízo fica mesmo com os clientes.
Serviço salgado
Quanto se paga para deixar o carro com os manobristas de algumas casas e o que é possível consumir em cada uma delas com esses valores
- Leopolldo
Preço do valet: R$ 20,00
O que dá para consumir: Bloody Mary (R$ 20,00)
- Chakras
Preço do valet: R$ 20,00
O que dá para consumir: Creme brûlé de pistache (R$ 19,00)
- Dressing
Preço do valet: R$ 20,00
O que dá para consumir: Morangos flambados (R$ 19,00)
- Maní
Preço do valet: R$ 20,00
O que dá para consumir: Pirulitos de parmesão (R$ 16,00)
- Trindade
Preço do valet: R$ 19,00
O que dá para consumir: Croquetes de carne com amêndoas (R$ 19,00)
- Marakuthai
Preço do valet: R$ 18,00
O que dá para consumir: Carpaccio de beterraba (R$ 16,00)
- Vino!
Preço do valet: R$ 18,00
O que dá para consumir: Merengue italiano (R$ 17,00)
- La Mar
Preço do valet: R$ 18,00
O que dá para consumir: Arroz con leche (R$ 18,00)
- Arábia
Preço do valet: R$ 17,00
O que dá para consumir: Duas esfihas e um quibe frito (R$ 15,80)
- Brasil a Gosto
Preço do valet: R$ 17,00
O que dá para consumir: Coquetel de frutas sem álcool (R$ 16,00)
Fonte: Revista Veja São Paulo, 3 de agosto de 2011