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Jorge Hori *

Numa imensa metrópole como São Paulo, com 10 milhões de moradores apenas na Capital e quase o dobro em toda a região metropolitana, as mudanças que ocorrem no dia-a-dia são pouco perceptíveis no presente. Só serão percebidas no futuro, quando o conjunto das mudanças tomar vulto suficiente para emergir de forma visível.
O que se percebe no presente é fruto de mudanças que ocorreram gradual e persistentemente no passado. Algumas mais recentes, outras até longínquas.
E, ao contrário do que se imagina, não por falta de planejamento, mas como decorrência dos planejamentos.
Retornando ao início do século passado, quando ocorre a industrialização na cidade de São Paulo, essa foi planejada dentro do conceito cidade-jardim, importado da Europa.
Para melhorar a moradia dos ricos, ou mais abastados, que emergiram primeiro da cafeicultura e depois da industrialização, foram desenvolvidos loteamentos de alto padrão, distantes do Centro e das fábricas. Na ocasião, a Avenida Paulista era distante do Centro. Os Jardins ficavam, praticamente, no Interior.
Mas o conceito de que viver bem na cidade era morar longe do barulho e poluição das fábricas promoveu uma imensa descentralização da riqueza, trazendo como consequência os congestionamentos de trânsito.
A implantação do modelo cidade-jardim ocorreu de forma incompleta, pois, diferentemente do modelo original, o acesso não era ferroviário, porém rodoviário. A chegada tardia do modelo fez com que o planejamento da cidade se baseasse na movimentação rodoviária, como é o conceito fundamental do Plano das Avenidas do Prefeito Prestes Maia. Com uma visão - que hoje se percebe tacanha - da movimentação (então) futura, como se percebe pelo número de faixas de rolamento da Avenida Nove de Julho, a principal artéria do referido plano para fazer a ligação entre os Jardins e o Centro.
Isso apenas para ilustrar que o que ocorre no presente é fruto de decisões e mudanças passadas. Por essa razão é importante perceber e avaliar as tendências e eventuais mudanças delas, para poder desenhar os cenários futuros da cidade.
Já nos referimos à tendência de redução da população da cidade de São Paulo, com a estimativa - baseada nas projeções do Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) - de que 2014, o ano da Copa, será o auge da população. A partir daí, haverá um decréscimo no conjunto da população do Município, fenômeno esse que já ocorre no Centro Expandido.
Isso ficará muito evidente quando da divulgação do Censo de 2010, que será realizado este ano pelo IBGE. O fenômeno existe, mas só será percebido claramente quando a estatística o confirmar.
O modelo da cidade-jardim, com a separação entre o local de moradia e de trabalho, está sendo substituído gradualmente pela aproximação desses locais. De forma lenta, mas persistente. Poderá ficar mais evidenciada com a pesquisa OD (Origem-Destino) de 2017, mas a mudança deverá ser efetivamente percebida com a OD de 2027.
A outra grande mudança de tendência é a implantação dos estacionamentos de transferência junto às estações do Metrô e da CPTM. Pode parecer uma atuação pontual, mas é uma substancial quebra de paradigma da cultura metroviária que durante muitos anos recusou-se a aceitar a integração metro-carro, com estacionamentos junto às estações.
As estações futuras do metrô poderão contar com garagens subterrâneas, com uma ampliação dos "buracos".
Alegava-se que essas garagens, além de encarecer a obra, não teriam demanda suficiente para se autossustentarem na operação e manutenção. No que tinham boa parte de razão.
Agora, com o agravamento dos congestionamentos e também a ampliação da rede metroviária, os estacionamentos de transferência, os chamados e-fácil, estão se desenvolvendo e tenderão a se ampliar.
Dessa forma, apesar do crescimento sucessivo da frota de automóveis, o trânsito de São Paulo tende a desafogar, no conjunto, mantendo, no entanto, alguns corredores e pontos saturados. Dentro de uma perspectiva de médio e longo prazos.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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