Antes desse pacote, a passagem deles já havia sido vetada em avenidas como Rebouças, Morumbi, Nove de Julho e 23 de Maio. Num primeiro momento, o impacto das restrições foi positivo. De um ano para cá, de acordo com as medições da CET, a fluidez do trânsito em toda a capital teria melhorado em 22% - número, diga-se, que não reflete nem de longe o que motoristas e passageiros enfrentam no dia a dia. Aos poucos, no entanto, a turma que anda devagar e solta fumaça preta pelo escapamento está voltando às ruas.
Para muitos caminhoneiros, o risco de burlar a proibição acaba compensando, pois a chance de escapar impune é bastante razoável. Desde setembro foram registradas mais de 100.000 infrações do tipo - 61.000 delas apenas na Marginal Pinheiros, o que dá uma média de 340 autuações por dia, ou 21 por hora. Parece muito, mas não é. Na segunda-feira, 18 de abril, entre as 16h e as 17h, Veja São Paulo contou a quantidade de caminhões que circulavam irregularmente por lá. Na altura da Ponte Cidade Jardim, no sentido Interlagos, flagramos 103 pesos-pesados em horário proibido. Isso representa um indício de que, a cada motorista multado, outros quatro escapam da pena.
"A fiscalização atual é insuficiente para disciplinar o setor", acredita o engenheiro Roberto Scaringella, ex-presidente da CET. Segundo ele, a maneira mais prática para coibir os infratores é aumentar o contingente de marronzinhos ao longo de vias estratégicas.
A volta dos veículos proibidos à Marginal Pinheiros está diretamente ligada a outra questão: a demora na conclusão do Rodoanel. Inicialmente, o conjunto de vias que deveriam aliviar a cidade de boa parte dos caminhões tinha o término de obras previsto para 2004. Dois dos quatro trechos já foram entregues - um avanço e tanto para a malha viária da região metropolitana, mas ainda insuficiente. "A frota de veículos não parou de crescer durante a construção e o anel viário já nasceu congestionado", aponta Jaime Waisman, consultor na área de transportes.
Se não bastasse, as duas vias em operação colecionam problemas. Inaugurado em março do ano passado, o trecho sul, que custou 5 bilhões de reais, ainda não ganhou iluminação em toda a sua extensão. Ele foi palco de 75 acidentes, na maioria envolvendo caminhoneiros.
Os caminhoneiros levantam outros motivos para evitar o Rodoanel. "Como em boa parte da estrada o sinal do celular não pega, diversos motoristas se sentem inseguros de usá-la durante a noite", afirma Francisco Pelucio, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp). Responsável pela administração do trecho sul, a concessionária SPMAR promete corrigir os problemas e instalar câmeras de monitoramento e cabines de comunicação a cada 1 km até setembro (no mesmo mês, está previsto também o início da cobrança de pedágio). Sem o bom funcionamento do Rodoanel e o aumento da fiscalização tanto lá como na cidade, para inibir e punir os infratores, a guerra contra os caminhões jamais será vencida.
- Total de caminhões multados (desde setembro)
Marginal Pinheiros - 61.002
Avenida dos Bandeirantes - 30.515
Avenida Afonso DEscragnolle Taunay (continuação da Av. dos Bandeirantes) - 8.691
Avenida Jornalista Roberto Marinho - 699
Onde eles circulam
Em uma área de 100 km2 da cidade, os caminhões estão proibidos de trafegar das 5h às 21h, de segunda a sexta. Aos sábados, a proibição vale das 10h às 14h. Desde setembro, o limite foi ampliado para avenidas como a dos Bandeirantes e a Marginal Pinheiros, entre as pontes do Jaguaré e do Morumbi.
Os modelos liberados do rodízio
- Período integral: Guinchos, prestadores de serviço e obras emergenciais, veículos da CET, correios e cobertura jornalística, além dos chamados Veículos Urbanos de Carga (VUCs), utilizados para pequenas entregas
- Das 5h às 16h: Caminhões de feira livre, mudança, coleta de lixo, concretagem e remoção de terra em obras civis
- Das 5h às 12h: Veículos que transportam alimentos perecíveis
- Das 10h às 16h: Caminhões de obras e serviços de infraestrutura urbana e de transporte de caçambas
- Das 10h às 20h: Caminhões de transporte de valores
Fonte: Revista Veja São Paulo, 27 de abril de 2011