Parking News

Dize como andas no trânsito que te direi quem és. Na cidade onde o menor intervalo de tempo é calculado entre a abertura do sinal e a buzina do carro atrás, o mau comportamento impera. No Rio, especialmente nos horários de rush, há carros parados sobre a faixa de pedestres, pessoas atravessando entre veículos, bicicletas na contramão, motos em cima de calçadas e motoristas fechando o cruzamento. Enquanto isso, na cidade de São Paulo, onde os engarrafamentos batem recordes e a frota de veículos é quase três vezes maior, os motoristas parecem andar mais na linha, segundo especialistas e pessoas que viveram nas duas capitais. A reportagem é do Globo.
Cariocas parecem não gostar mesmo de sinal fechado, como já cantou Adriana Calcanhotto: as multas por avanço da luz vermelha no Rio em 2012 chegaram a 301 mil, segundo o Detran. Em São Paulo, houve cerca de cem mil autuações a menos por esse tipo de infração no mesmo ano, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP). Isso, apesar de a rede de fiscalização do Rio ser menor: são 313 radares e lombadas eletrônicas, além de 1.200 guardas municipais nas ruas por dia. Em São Paulo, há 582 radares e 3.150 agentes com poder de multa, entre policiais e fiscais municipais. Em São Paulo, as multas por estacionamento na calçada caíram 3,5% de 2011 para 2012 e totalizaram 83,4 mil no ano passado. A quantidade é a metade da registrada no Rio, que teve 169,9 mil multas em 2012, um aumento de 13% em relação a 2011. "No Rio, na região da Candelária, por exemplo, quase não há estacionamentos pagos. Em São Paulo, eles existem em todos os bairros, inclusive no Centro. Muitas casas foram demolidas em São Paulo para virar estacionamento", diz Horácio Figueira, mestre em engenharia de transportes pela USP e vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres. Autor de "Fé em Deus e pé na tábua - Como e por que o trânsito enlouquece no Brasil", o antropólogo Roberto DaMatta diz que em São Paulo, assim como em Porto Alegre e Brasília, a discussão sobre educação ocorre há mais tempo. "São Paulo aprendeu primeiro na prática que é melhor o igualitarismo para resolver o problema do que bater. Em São Paulo, há mais cordialidade e cautela. É o bom senso: é melhor que eu pare na esquina para o outro passar do que bater. Para o mestre em transportes pela USP Sérgio Ejzenberg, cariocas costumam ser mais agressivos no trânsito que paulistanos. Em São Paulo temos mais frota, mas no Rio os motoristas jogam mais o carro, grudam mais na traseira dos outros veículos.
Os rankings de infrações de São Paulo e do Rio em 2012 são encabeçados pelo excesso de velocidade. Em São Paulo, o desrespeito ao rodízio de veículos aparece em segundo lugar, posição que, no Rio (onde a medida não foi adotada), é ocupada pelo avanço de sinal. Desconsiderando multas administrativas na lista do Detran do Rio, estacionar sobre a calçada vem em terceiro. Falar ao celular ocupa a sétima posição no ranking do Rio e o quarto lugar em São Paulo, onde a transgressão está atrás de estacionamento irregular.
Especialistas ressaltam que comparar a civilidade dos condutores cariocas e paulistanos é difícil, pois é necessário levar em conta a frota - no Rio é de 2.636.264 veículos e em São Paulo, de 7.379.534 -, a quantidade de fiscais e radares e o enfoque dado a multas de determinadas infrações.
Professor de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, Paulo Cezar Ribeiro avalia que a falta de rigor na fiscalização está entre as razões para o mau comportamento no trânsito. Para Roberto DaMatta, acostumado a uma sociedade hierarquizada, em que já existiram nobres e escravos, o brasileiro, em geral, costuma expor no trânsito seus preconceitos. "A cordialidade no trânsito é o reconhecimento do outro como tal, como uma pessoa como você. Se está com pressa, tem que pensar que os outros também estão. Se não, você vai morrer e não vai a lugar nenhum", diz.
Pedro Paulo Bicalho, professor de psicologia da UFRJ, diz que o trânsito é um sintoma da maneira como as pessoas construíram historicamente suas relações: "As raízes vêm da ideia de casa-grande e senzala, de que o outro vale menos do que eu". O urbanista José Luiz Alquéres, ex-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, diz que a grande informalidade da economia do Rio - maior que em São Paulo - ajuda a explicar o mau comportamento no trânsito: "As pessoas se acostumaram à impunidade em relação a regras básicas de convivência".
Fonte: O Globo (RJ), 3 de março de 2013

Categoria: Geral


Outras matérias da edição

O conto do valet (27/02/2013)

Virou quase uma epidemia em São Paulo. Nos últimos anos, boa parte dos bares e restaurantes passou a oferecer a seus clientes um serviço de valet para estacionar seus carros. Poucos são os estabelecim (...)


Seja um associado Sindepark