Árvores, riachos, pastagens e plantações fazem parte do dia a dia desses paulistanos que trocam o asfalto pelo campo. Eles contam que a vida rural em meio à metrópole é um privilégio do qual não abrem mão. "Aqui não tem aquela montoeira de gente, como na cidade. Meus netos brincam na terra, se sujam e não ficam doentes", diz a doméstica Maria Aparecida Cordeiro Antonio, de 50 anos, pouco mais de 20 deles em Marsilac.
Maria Aparecida nasceu em São João do Ivaí (PR). Lá, trabalhava como agricultora com o marido. O casal seguiu para São Paulo nos anos 1980 em busca de oportunidades, mas não se acostumou à vida turbulenta. "A gente não se deu bem. Aí passamos a viver como caseiros em sítios aqui de Marsilac. Depois de um tempo, conseguimos comprar esse terreno, onde criamos nossos filhos e netos."
Em casa, a doméstica cria um tucano de estimação, entre outros bichos, e vê vizinhos que usam animais como meio de transporte. É o caso do agricultor Florisvaldo Cardoso, que vive montado na mula Estrelinha, seu xodó.
Cachoeira
Mais ao sul, ainda em Marsilac, o paulistano "da cidade" se espanta quando cruza com vacas e bezerros no atoleiro. No fim do caminho, encontra uma cachoeira de água límpida. Luciano Ré escolheu ali como cenário para viver depois da aposentadoria. Ele reclama só da estrada malcuidada e das falhas do celular. A lanchonete de Luciano, ao lado da cachoeira, está em reforma. Os trabalhadores que consertam o telhado aproveitam a pausa à tarde para tomar goladas de cachaça Janaína e pitar um cigarrinho de palha. Todos vivem nas redondezas.
Em outra ponta da zona sul, na Ilha do Bororé, os moradores cruzam a Represa Billings em uma balsa para chegar à cidade. Alberto Florentino comprou uma chácara ali há oito, mas foi há um ano e meio que se mudou de vez. "O Bororé é tudo para mim. Aliás, nem vou fazer muita propaganda, senão logo, logo vai estar cheio de gente por aqui e acaba o sossego."
Tremembé
Não é só a zona sul que abriga moradores da área rural de São Paulo. No outro extremo da cidade, na zona norte, é possível encontrar sítios e chácaras, embora já cercados por ocupações irregulares.
Os 75 anos de idade não impedem Hideko Yogui de repetir os gestos que faz há quase meio século, desde que seu pai comprou a área de um alqueire no Tremembé para plantar chuchu. Ela segura o cabo da enxada, lavra a terra e diz que o trabalho faz bem.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 15 de maio de 2011