Segundo o relatório mais recente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), com dados de 2008, a frota de veículos é responsável na Grande São Paulo por 98% das emissões de monóxido de carbono (CO), 97% de hidrocarbonetos (HC), 9% de óxido de nitrogênio (NOx), 40% de material particulado e 33% de óxido de enxofre (SOx). Todos são materiais que poluem o meio ambiente.
Em números concretos, essas emissões correspondem a 1,56 milhão de toneladas de CO jogadas por ano na atmosfera; 387 mil toneladas por ano de HC; 367 mil toneladas por ano de NOx; 62,3 mil toneladas por ano de material particulado e 25,5 mil toneladas por ano de SOx.
Apesar disso, a Cetesb afirma que a emissão de poluentes diminuiu em relação a dez anos, e está estável há cerca de quatro. "Apesar de a frota ter aumentado, os níveis de poluição diminuíram. Ainda temos o que avançar, e ainda há dias em que os valores dos poluentes ultrapassam o padrão", explica Maria Helena Martins, gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb.
"Já tivemos um grande ganho tecnológico, mas agora a solução é mais complexa, não só de medidas governamentais, mas de conscientização das pessoas, com a manutenção dos carros e o uso de transporte público", diz ela.
Quem tem doenças respiratórias de origem alérgica, como asma brônquica e rinite, sofre ainda mais com a poluição nos dias secos e frios, típicos do inverno. Segundo o pneumologista Clystenes Odyr Soares Silva, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cerca de 10% da população da capital paulista sofre com essas doenças.
Frota cada vez maior
Números do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran) mostram que a frota de veículos cresce a cada mês na capital paulista. Em junho, eram 6,55 milhões que circulavam na capital paulista, contra 6,52 milhões em maio. A cidade tinha 6,1 milhões de veículos em junho de 2008 e só foi registrada interrupção no aumento gradativo da frota em setembro do ano passado, mês que marcou o agravamento da crise econômica mundial.
O médico e pesquisador Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, acredita que o governo deveria ter adotado uma postura diferente em meio à crise, o que poderia ter contribuído para a redução dos poluentes. "Quando o Obama apoiou as montadoras, ele exigiu em troco mais eficiência dos carros e menor emissão. Aqui, a gente reduziu IPI, está financiando caminhão a diesel e não está exigindo nada em troca."
Ainda segundo o médico e pesquisador, a expectativa de vida média pode ser reduzida em até dois anos na capital paulista por causa dos poluentes. Ele explica que o nível máximo permitido pela OMS é 10 microgramas por metro cúbico de partículas finas. Na capital paulista, esse número fica entre 25 e 30.
Metais pesados
Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cardiologia no Dia Mundial do Meio Ambiente mostra que não fumantes podem ter um comprometimento pulmonar semelhante ao de um tabagista por causa da poluição. Os pesquisadores submeteram 228 pessoas a um teste para verificar a quantidade de monóxido de carbono no organismo. Desse total, 4% de quem não fumava apresentou comprometimento semelhante ao de fumantes. Outros 76% apresentaram níveis de monóxido de carbono, mas eles foram considerados baixos para a incidência de doenças cardiovasculares.
Implantado em 2008 em meio a muita polêmica com os motoristas, o programa de Inspeção Veicular Ambiental da Prefeitura de São Paulo é a principal ação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente para tentar melhorar os níveis de poluição na cidade. Este ano, todos os veículos a diesel, motos e carros - os últimos, com fabricação entre 2003 e 2008 - são obrigados a ir a um dos postos da empresa contratada para serem inspecionados.
"A inspeção foi implementada para garantir que os veículos estão regulados e ajustados. Com uma frota de 6 milhões de veículos, isso é extremamente fundamental. No caso de São Paulo, a maior das fontes poluidoras é o escapamento dos veículos. Estamos atacando essa fonte", explica Márcio Schettino, coordenador do programa.
Poluição sonora
Os problemas causados pela poluição sonora não são menos significativos. "Qualquer pessoa, não importa onde esteja, se for submetida a um som em volume muito alto, pode ter prejuízos ao longo do tempo", explica o otorrinolaringologista Luciano Rodrigues Neves, da Unifesp.
Pessoas que moram em áreas barulhentas durante a noite têm dificuldade para dormir, o que causa a irritação durante o dia e dificulta a absorção da memória recente. E o barulho durante o dia, dentro do próprio carro, ônibus, moto ou caminhão, colabora para o estresse já causado pelos congestionamentos.
Fonte: portal G1, 21 de agosto de 2009