Parking News

Por Jorge Hori*

Um problema para ser notícia é o que ocorreu ou está ocorrendo de forma visível. O Bom Dia São Paulo (Rede Globo) iniciou uma série mostrando os problemas da imobilidade urbana em São Paulo. Faz o seu papel.
Já as autoridades não podem pretender apenas atuar nos efeitos visíveis, apontados pelas reportagens, como vem tentando com a experiência no Largo Treze, com uma melhoria pontual e artificial da velocidade dos ônibus naquele centro.
É preciso ir mais a fundo na questão e entender corretamente por que há tanto congestionamento. O fato concreto é que há mais carros nas vias, com as facilidades de financiamento para aquisição dos veículos, com o objetivo de manter os níveis da produção industrial e os empregos.
Mas os carros estão nas ruas porque as pessoas precisam se deslocar e optam pelo carro para esse deslocamento. A perspectiva imediatista recai sobre a opção do modo de transporte, mas desconsidera o fator principal que é o deslocamento. Cabe então entender e avaliar essa questão básica: por que e para que as pessoas estão se deslocando. Considerando o pico da manhã, a maior parte ou a quase totalidade das pessoas estão se deslocando da sua residência para o local de trabalho. E por que estão usando um transporte motorizado? Simples: porque o local de trabalho é distante do local de moradia.
Se esse é o problema, a solução parece simples: aproximar o local de trabalho da moradia, reduzindo a necessidade de deslocamentos. A frota de automóveis poderá aumentar, mas não será usada para esse deslocamento matinal. Aliás, uma grande parte da frota não é usada, permanecendo estacionada nas garagens particulares ou nas vias públicas próximas à moradia, somente sendo movimentada nos finais de semana. Isso explicaria por que há congestionamentos aos sábados e domingos. O aumento da frota afeta mais esses dias.
Antes de tentar proposições concretas para a aproximação entre a moradia e o trabalho, duas perguntas preliminares precisam ser respondidas para entender o problema: por que as pessoas estão morando longe dos locais de trabalho? E por que os decisores dos locais de trabalho não transferem as empresas para onde estão concentrados os moradores?
As razões de morar longe são bem diferentes entre os que têm muita e os que têm pouca renda. Os primeiros buscam locais mais aprazíveis, tranquilos, pouco ocupados em grandes áreas, cercados de verde, procurando viver bem, mesmo tendo de enfrentar distâncias maiores. Já os pobres são empurrados para as periferias distantes, com carência de infraestrutura, onde os custos de moradia seriam menores. Como as tarifas dos ônibus ou metrô são fixos, independentemente da distância, morar longe não gera custos econômicos maiores, ainda que implique maior tempo de viagem. As políticas tarifárias do transporte coletivo favorecem e até estimulam a periferização da pobreza.
Se os trabalhadores se transferem para a periferia, por que os empregos não os acompanham? Porque os empregos dependem dos empregadores que os geram e esses têm lógicas diferentes dos trabalhadores de baixa renda. Eles não se dispõem a ir trabalhar nessas periferias, onde supõem que há muita violência e não encontram serviços essenciais, como uma alimentação adequada para o almoço. Ou seja, os decisores não levam os empregos para a periferia porque eles não querem ir junto, mesmo que o Poder Público ofereça benefícios tributários. Até porque em empresas maiores, como as operadoras de call center, as vantagens seriam dos acionistas e o encargo de ter de ir para a periferia gerenciar os serviços seria dos subdiretores ou gerentes, que influenciam na decisão dos locais de instalação das unidades.
A descentralização só é viável em locais onde há uma conjugação de ocupação periférica entre a riqueza e a pobreza, como em algumas regiões de São Paulo: Alphaville, Osasco, Embu das Artes e outras. Na zona leste não existe essa combinação, o que inviabiliza a criação de mais empregos na região.
A população pobre continuará morando longe e mal e gastando muito tempo com a condução. Sua única vantagem é pagar pouco pela condução.


* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.

Categoria: Fique por Dentro


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