São Paulo, bairro Vila Santos. Todos os dias o programador de dados Washington Barbosa sai para trabalhar com uma certeza. "Cada vez a gente tem que sair mais cedo e chega mais tarde".
O percurso entre a casa e o trabalho é de cerca de 20 km. Às 7h15 o Fantástico pega uma carona com o programador. Com pouco mais de 500 metros rodados, em um ponto do trajeto já começa a fila de carros.
São quase 7 milhões de veículos registrados na capital. Se todos formassem uma fila, ela seria três vezes maior do que a costa brasileira, que é de pouco mais de 7,3 mil km.
As férias reduzem o número de carros circulando, mesmo assim, Washington fica ligado no rádio, para saber se precisa mudar o percurso.
A pressa pode significar infração. Só em 2009, mais de 6,2 milhões de multas foram aplicadas na cidade. "Você está prestando atenção no farol e se esquece de olhar o velocímetro, aí o radar te pega", explica.
Depois da sucessão de sinais, temos sorte: o trânsito segue sem problemas. Às 8h30 chegamos à empresa em que ele trabalha. "Começo o dia arrebentado", reclama.
A maior cidade do País tenta controlar os congestionamentos, com restrições a caminhões e com rodízio de veículos. "Isso vem tirando até hoje 20% dos veículos, por finais de placa", conta Irineu Gnecco Filho, da CET-SP.
Até pouco tempo se acreditava que só as ruas e avenidas de uma cidade precisavam ter mais inteligência. Agora o modelo é outro: "O inteligente será o carro". Veja o teste dessa inteligência que está sendo feito na Noruega. A partir de 2011 o Brasil seguirá por esse caminho, por conta de uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito.
Trondheim, em norueguês, quer dizer "terra dos fortes". Mas não é pela força dos habitantes que a cidade chama a atenção. Com mil anos de história, ela tem um pé no futuro, ou melhor, quatro rodas no futuro. A cidade não parece muito grande, mas tem quase um carro por habitante. Ao todo são 120 mil pessoas dirigindo por ruas não muito largas. O campo de testes ideal para novas tecnologias. Trondheim se transformou na cidade do trânsito perfeito.
O mundo está de olho em Trondheim por causa de caixotes verdes espalhados pelas ruas. É um sistema de comunicação sem fio. Com ele, os carros formam uma comunidade. O engenheiro Knut Evensen, que desenvolveu a tecnologia do projeto, diz que os carros vão cooperar com os outros carros, vão cooperar com o sistema à beira das ruas, das estradas e com o escritório.
O que ele chama de "escritório" é qualquer órgão interessado no bom andamento do tráfego. Dentro do carro, fica um computador pouco maior do que a tela de um GPS. Só que ele faz muito mais do que mostrar o caminho. O sistema envia um sinal, e o computador detecta: no lugar exato em que é preciso frear, surge na tela uma placa virtual: "Cuidado: escola". Quando o carro passa por uma estação, recebe o aviso com o horário do próximo trem. Outros carros mandam mensagens automáticas em caso de acidentes e engarrafamentos.
A cabine do pedágio não existe mais. A taxa é calculada de acordo com o percurso. E o carro também conversa com ele mesmo. Quando passa em frente a um posto, já sabe se tem combustível para chegar até o próximo. Se não, ele avisa: é hora de abastecer.
Na cidade do trânsito perfeito, ninguém fica dando volta procurando vaga para estacionar. Quando o carro está chegando perto do estacionamento, o sistema já mostra se tem vaga ou não. O motorista consegue fazer a reserva de uma vaga na hora e o sistema começa a mostrar o caminho até a vaga, que vai esperar pelo carro.
Em 2013, uma parte do sistema já vai estar implantada na Europa e nos Estados Unidos. Graças a ele, nos dicionários do futuro a palavra carro vai significar um computador sobre rodas.
No Brasil, o chamado Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos vai usar um chip como o que pode ser visto no vídeo, que é menor do que um grão de arroz e vai conter todas as informações sobre o veículo.
O chip pode vir em adesivos ou em uma placa eletrônica. Na hora do licenciamento, um deles vai ser colado no vidro. A partir daí não é preciso fazer mais nada. Cada vez que o motorista passar por um leitor em ruas, avenidas ou rodovias vai transmitir e pode receber informações.
Ele trocará informações usando antenas. Na capital paulista, estão previstas cerca de 2 mil delas. "Dará uma condição de pesquisa em tempo real, online, da velocidade do veículo, do volume de veículos, da origem e destino desses veículos", diz o funcionário da CET-SP. O chip também pode ajudar a prevenir furtos e roubos de cargas e veículos.
"Eles passam a constar no sistema, e todas as antenas que estão nas rodovias e nas cidades ficam sabendo desse evento, e elas podem avisar às autoridades locais", conta Dario Thober, do Centro de Pequisas Wernher Von Braun.
A implantação do chip está prevista para começar no segundo semestre de 2011. A previsão é de que até o fim de 2014 toda a frota brasileira esteja licenciada com o chip.
Fonte: programa Fantástico (TV Globo), 30 de janeiro de 2011