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Jorge Hori *

Podem-se lançar empreendimentos imobiliários de padrão A e A+ em áreas de risco?
Terça-feira passada a cidade de São Paulo enfrentou novamente enchentes e as margens dos rios Tietê e Pinheiros foram cobertas pelas águas, desmentindo a promessa de que com o aprofundamento da calha do Rio Tietê os problemas de alagamentos nessas áreas estariam definitivamente superados.
Repetiu-se o mesmo quadro de maio de 2006, quando o rio Tietê transbordou pela primeira vez, depois das obras de rebaixamento. E as razões foram as mesmas: "Falha nas operações de gerenciamento das águas".
As autoridades logo culpam as chuvas, mas as de terça não foram maiores do que as da quinta anterior.
A Região Metropolitana de São Paulo é muito extensa e nem sempre chove - com a mesma intensidade - em toda a região.
Quando chove mais nas regiões oeste e sul do Município, os impactos gerais são mais localizados, porque estão a jusante do rio Tietê na cidade ou na área das represas.
Quando chove mais na região leste, e também na norte e na sudeste, toda a água é canalizada para o leito do rio Tietê, que foi retificado e as várzeas ocupadas pelas Avenidas Marginais e por construções.
É natural que com as chuvas e o aumento de volume momentâneo das águas essas busquem ocupar os seus espaços primitivos. Na terça-feira, dia 8, choveu mais nas cabeceiras do Tietê do que no dia 3 de dezembro.
Ao interferir nas condições naturais, a engenharia gera também as salvaguardas e busca gerenciar as águas dentro de um sistema de barragens para manutenção de um fluxo contínuo das águas, evitando tanto as enchentes como as secas.
As enchentes, depois dessas obras todas, podem ocorrer por três motivos básicos:

- volume de chuvas atípicas, muito superiores às previsões dos projetos que se baseiam em dados seculares;
- investimentos insuficientes para atender às previsões;
- falha no gerenciamento do sistema.

Volume de chuvas atípicas significa dizer que o volume de precipitação é único e excepcional dentro do século: "Nunca antes nesta cidade..." Não foi o caso.
Os investimentos no rebaixamento da calha do rio podem não ter sido insuficientes, mas a não retirada de alguns obstáculos a jusante das eclusas do Cebolão pode ter contribuído para o represamento maior das águas e sua reversão.
A falha no gerenciamento é sempre a causa mais provável. Ou pior, sempre que alaga a área do Ceasa, 99% de probabilidade é que seja em decorrência de falha no gerenciamento.
Sem entrar em maiores detalhes técnicos, o trecho do rio Pinheiros entre a usina da Traição (no início da Avenida Bandeirantes, onde fica o Viaduto Ary Torres) e o Cebolão, onde se encontra com o Tietê, é praticamente uma lagoa, com um pequeno volume de águas, lançado pela usina. Quando o Tietê enche, o sentido das águas é invertido, ocupando o leito do Pinheiros. O sistema prevê a retirada do excesso das águas por bombeamento na Usina da Traição.
Esse mecanismo, criado por alimentar as represas e a usina Henry Borden, na serra, tem operações limitadas por questões ambientais, porém podem e devem ser utilizadas nas situações das cheias. Não funcionou.
As bombas teriam falhado. Por falta de manutenção, ou por falhas na operação (atraso no seu funcionamento).
Sempre que alagar a área do Ceasa, pode-se ter 99% de certeza de que não foi apenas por obra de Deus, mas por falha humana.
Essa área agora está sendo objeto de uma grande evolução imobiliária. O mercado desceu do Alto da Lapa, pulou a Vila Hamburguesa e está tomando a Vila Leopoldina.
Um grande lançamento foi feito vizinho ao Ceasa e há projetos para a reurbanização da área hoje ocupada pelo Centro de Abastecimento, que seria deslocado para a proximidade do Rodoanel.
Essa reurbanização implicaria modernas edificações residenciais e comerciais, mas, como é usual, com as garagens no subsolo.
Como essas garagens estarão protegidas contra eventuais enchentes?
Uma coisa é o prejuízo com melancias boiando nas fétidas águas do Pinheiros. Outra coisa serão BMWs, Audis, Mercedes etc. nas garagens dos edifícios AAA, tomadas pelas mesmas águas.
Haverá incorporadores imobiliários dispostos a arriscar? E avisar adequadamente os compradores?
O que representará de deságio?
Quando o problema é de investimentos, pode-se acreditar que esses resolvam. Mas, quando a causa é falha humana, que se repete, como confiar?


*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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