Parking News

Jorge Hori *

Lembrando e refletindo sobre os últimos 50 anos da cidade de São Paulo, período em que ocorreram grandes e rápidas transformações, quais formam os impactos dos estacionamentos ou da falta desses na conformação da cidade?
Em 1954, a cidade ainda não havia se espraiado tanto, não havia produção nacional de carros, a frota importada era pequena e dentro da cidade movimentava-se de bonde. Poucas eram as garagens e raramente ocorriam congestionamentos, a não ser em eventos em datas festivas, e podia-se estacionar sem maiores problemas nas vias públicas.
Dez anos depois, o quadro já era bem outro. Já se produziam carros em território nacional, iniciando pela Vemaguete, e passavam a concorrer com os bondes nas vias públicas. Venceram e a Prefeitura retirou ou bondes. Como símbolo do atraso, em contrapartida à modernidade dos automóveis.
A periferia se expandia horizontalmente, com as pessoas sendo servidas por ônibus, deixando de depender apenas dos trens suburbanos, para ter acesso à cidade.
Com o crescimento da frota de automóveis, tornou-se necessário prever e prover vagas dentro dos novos imóveis, principalmente dos edifícios, com uma (algumas bem apertadas) por apartamento, ou por conjunto comercial.
O desejo de ter um automóvel, a par da carência de estacionamentos, fez com que a "riqueza" fosse abandonando as áreas sem oferta de vagas próprias. Essa carência marcou a inflexão da ocupação e consequente valorização imobiliária do Centro.
Os moradores de maiores recursos, entre esses, donos de ao menos um automóvel, foram se mudando para outras regiões, onde pudessem contar com uma garagem própria ou condominiada.
Da mesma forma, o comércio e serviços foram mudando para áreas onde a sua clientela pudesse estacionar os seus automóveis. O principal local de recepção foi o final da Avenida Paulista, marcada pela presença do Conjunto Nacional, estendendo-se pela Rua Augusta, na direção dos Jardins.
A exigência de mais estacionamentos marcou as sucessivas transferências dos polos de comércio, serviços e mesmo de residências.
Ao adentrar nos anos dez do século XXI, os polos comerciais e de serviços são marcados pela necessidade de estacionamentos públicos (ainda que operados de forma privada). A quantidade de vagas nas vias públicas tende a ser cada vez menor, pela necessidade de garantir maior fluidez ao tráfego.
As mudanças que ocorrem na cidade são pouco perceptíveis enquanto ocorrem, mas ficam evidentes quando se volta para trás e se compara a situação atual com a anterior ou antiga.
As variações da importância relativa de bairros de São Paulo têm sido marcadas pela maior ou menor oferta de estacionamentos.
É um fator pouco visível, mas de grande importância nas mudanças espaciais que ocorrem na cidade de São Paulo.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

Categoria: Fique por Dentro


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