A consequência foi a criação de "estacionamentos informais", que tentam atender a demanda por vagas. Com a implantação da Zona Azul, o motorista que deixa o carro na rua paga pela folha unitária R$ 1,80, podendo renová-la por apenas mais uma hora. Ou seja, depois de duas horas e de desembolsar R$ 3,60, o proprietário do veículo é obrigado a procurar outra vaga, para não ser multado.
Para que a conta não fique tão salgada ao final do mês, a solução encontrada foi apelar para os moradores da região, que passaram a alugar as garagens, desocupadas durante o dia. Cientes, no entanto, de que o "aluguel" do espaço é ilegal, muitos evitam comentar o assunto abertamente.
"Eu não alugo, não. Eles deixam o carro aí durante o dia e me dão um agrado no final do mês. Eles me dão o que quiserem", disse uma aposentada e viúva que mora sozinha em uma casa em uma travessa da Berrini. No quintal em frente à residência há espaço suficiente para estacionar ao menos cinco carros. Na casa geminada ao lado, mais cinco vagas.
A Subprefeitura de Pinheiros, responsável pela região da Berrini, confirma que a prática é irregular, mas afirma que a fiscalização é difícil e só ocorre mediante denúncia. Para que fique comprovada a irregularidade, é preciso provar que os veículos parados na casa não são dos moradores e que está sendo feita alguma cobrança pelo estacionamento. Neste caso, o morador seria autuado.
Depois da implantação da Zona Azul na região, a aposentada conta que não teve mais sossego. "Todo dia vem gente aqui perguntar se tem vaga para alugar. O pessoal daquele prédio ali (e aponta para o prédio) ficou com todas. O carro fica aí durante o dia apenas", contou. Em seguida, ressabiada, questiona: "Você não vai me prejudicar, não, né?" Diante da negativa, a aposentada relaxa: "Moro sozinha e uma graninha a mais sempre ajuda, né?"
A opção por alugar garagens em residência sai mais em conta para o bolso do motorista. Foi o que constatou o comerciante Antônio Manoel Mendes de Oliveira, que mora em Pirituba, na Zona Oeste de São Paulo, e trabalha em uma padaria na Avenida Berrini. Antes da implantação da Zona Azul, ele deixava o carro na rua. O jeito foi apelar à clientela da padaria. "Fui conversando com um e com outro para ver quem podia alugar. Como não tenho horário fixo aqui (na padaria), alugo integral. Pago R$ 150,00 por mês. E tem mais gente aqui que está atrás de garagem para alugar", disse.
A aposentada Fátima, que mora há 55 anos em outra travessa da Berrini, também aluga a única garagem de casa. "Um amigo me falou que tinha uma moça procurando. Ela costumava deixar o carro na rua antes da Zona Azul. Ela deixa o carro, mas nem combinamos preço algum", ressalta, não querendo evidenciar qualquer vínculo "comercial" com a locatária da garagem.
Em frente à casa de Fátima, onde havia um sobrado, o terreno começa a ser preparado para ser pavimentado. "Vi construir e vi demolir a casa da minha amiga aí na frente. Ela demoliu para construir um estacionamento", contou Fátima, deixando claro que, com o aumento da demanda por vagas de estacionamento na região, o negócio pode se tornar cada vez mais promissor - e descaracterizar de vez o então bucólico bairro que Fátima conheceu há 55 anos.
Fonte: portal G1, 30 de julho de 2009
Comentário do Sindepark:
O Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo é contrário à informalidade no setor por ser esta atividade regulamentada por lei, que determina as garantias imprescindíveis aos consumidores deste tipo de serviço, a exemplo do seguro em caso de roubo ou danos ao veículo.
Por isso, o Sindepark recomenda aos usuários de estacionamento a utilização de empresas registradas nos órgãos competentes e qualificadas para oferecer um serviço à altura de suas necessidades.