A proposta de revitalização da cinelândia paulistana, mediante belos projetos arquitetônicos, não se viabilizará sem estacionamentos regulares para atender a uma demanda qualificada.
Os cinemas do centro de São Paulo atendiam à elite paulistana, sendo que alguns deles exigiam paletó e gravata para que se pudesse frequentá-los. Essa elite foi afastada do centro pela dificuldade de acesso, de mobilidade e de estacionamento. A suposição de que os usuários trocassem os carros pelo transporte coletivo com as restrições à circulação se efetivou, porém, com uma desvalorização dos frequentadores. Os de maior renda, usuários de carros, não deixaram de usá-los e partiram para "outras bandas". E foram substituídos por usuários de transporte coletivo, mas de menor renda, para muitos dos quais os cinemas se transformaram em locais para os filmes pornôs.
Não adiantará a restauração arquitetônica se não houver estacionamentos para atrair os usuários de maior renda.
Os cinemas entraram em decadência, mas se recuperaram tornando-se uma das atrações dos shopping centers, que são unidades multifunção, suportadas por um grande estacionamento. A pergunta é se as pessoas vão ao cinema e aproveitam para fazer compras, ou o contrário ou se programam para as diversas funções. Mas, em qualquer circunstância, requerem a facilidade do estacionamento.
Onde poderão ser esses estacionamentos próximos? Estudos anteriores já indicaram locais para estacionamentos subterrâneos que não prosperaram, mas que poderão ser retomados. Terão que ser construídos debaixo das vias e não das praças, deverão estar sob a Avenida São João, no trecho da Rua Conselheiro Crispiniano até a Avenida Ipiranga. O "partido" não seria o de garagens de grandes profundidades, mas mais horizontalizadas em função das interferências, principalmente das linhas metroviárias.
O conceito seria mais próximo de vias públicas rebaixadas com estacionamento lateral.
A viabilidade econômica dependerá do tempo de uso. A solução terá que ser pensada como um projeto urbano integrado, que proporcione atividades ao longo de 24 horas, com as vagas sempre ocupadas. Não é preciso ter a pretensão de ser uma Broadway de Nova York ou uma Guinza de Tóquio, porém, a concepção deve ser da conjugação de funções urbanas, sem descontinuidade, todos os dias.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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