Deixar o veículo por três horas na garagem da galeria Fórum de Ipanema, por exemplo, custa R$ 44. As medidas da Infraero já estão surtindo efeito para reduzir o número de pernoites de veículos nos aeroportos. O supervisor de marketing André Simas foi informado por seu chefe de que, após os aumentos, a empresa onde ele trabalha não vai mais reembolsá-lo pelo valor gasto no estacionamento do Galeão. No dia 7, após deixar seu carro por três dias, 15 horas e 13 minutos no terminal, ele desembolsou R$ 190, 192% a mais do que na semana anterior, quando permaneceu o mesmo tempo. "Anteriormente, essas mesmas horas custavam R$ 65. Eu moro em São Gonçalo e viajo pelo menos duas vezes por mês a trabalho. A partir de agora, vou pegar ônibus ou táxi para chegar à Ilha do Governador. Não tem outro jeito. O mais grave é não terem me avisado quando entrei no aeroporto em 4 de outubro, três dias após os reajustes", criticou Simas.
Usuários protestam contra aumentos
O inconformismo dos usuários está no novo sistema de cobrança pelo pernoite no Tom Jobim. Até setembro, as primeiras 24h custavam R$ 29. Depois disso, a cada dia ou fração, R$ 12. Agora, até o terceiro dia de permanência, a diária custa R$ 50; do terceiro ao sexto dia, o usuário paga R$ 40 para cada 24 horas; do sexto ao nono, R$ 35, e a partir do nono dia, R$ 30. Além disso, o cliente arca com as horas excedentes. Os outros períodos também sofreram reajustes, porém, menores do que o aplicado à diária. Duas horas, por exemplo, passaram de R$ 6 a R$ 8 - um aumento de 33,3%. Até uma hora não houve aumento: o preço continua R$ 6.
A situação no Santos Dumont é semelhante e também está gerando apreensão entre passageiros e funcionários de companhias aéreas. Os mensalistas passaram a pagar R$ 310, em vez dos antigos R$ 130 (reajuste de 183%). A diária passou de R$ 38 para R$ 53 (39,4%), enquanto o período de duas horas pulou de R$ 7 para R$ 10 (42,8%). A estatal, que administra os terminais do país, reiterou que os aumentos visam a beneficiar usuários que permanecem menos tempo nos estacionamentos. Segundo a Infraero, as áreas estão sobrecarregadas pelo grande número de motoristas que deixam seus veículos nos pátios por mais de um dia. A empresa alega ainda que a tabela não era reajustada desde 2006, no Galeão, e desde janeiro de 2010 no Santos Dumont.
Já em alguns shoppings e galerias da cidade, deixar o veículo por pouco tempo no estacionamento não garante economia. Parar por meia hora na garagem do Fórum de Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, custa R$ 10. O período de uma hora sai a R$ 18; duas horas, a R$ 32; e três custam R$ 44.
O empresário Antônio Machado deixou R$ 10 no estacionamento do Fórum, 21 minutos após chegar. "Eles se beneficiam da falta de estacionamentos na região e cobram o que bem entendem. Respeito a lei e não paro em lugar proibido, então não tenho para onde correr", justificou Machado.
Quem vai de carro para o shopping Rio Design Leblon também precisa se preparar. Meia hora custa R$ 7,50. Para cada 30 minutos excedentes, são cobrados mais R$ 2,50. Clientes que gastarem R$ 150 ou mais nas lojas têm desconto de R$ 5. Ao lado do Rio Design, o Shopping Leblon cobra R$ 2 por 30 minutos; R$ 4 por uma hora; R$ 6 a cada hora e meia; R$ 8 até duas horas e R$ 9 até duas horas e meia. A partir daí, R$ 0,50 a cada meia hora.
Autora da polêmica lei que obrigou os estacionamentos a cobrarem por período fracionado e não por período único, a deputada estadual Cidinha Campos classificou como um absurdo os preços fixados pelos shoppings. Embora os valores tenham disparado depois da medida, provocando uma enxurrada de críticas de usuários, Cidinha alega que esses aumentos não são uma reação à lei, que está suspensa por uma decisão do Tribunal de Justiça, contra a qual cabe recurso.
A Estapar, empresa que administra o estacionamento do Fórum de Ipanema, afirma que se trata da galeria mais famosa do bairro, "conhecida mundialmente", e que os preços variam de acordo com carga tributária, estudos de mercado e localização do empreendimento. Acrescenta ainda que os clientes têm à disposição sala VIP e manobristas. O Rio Design argumentou que oferece serviço de manobrista e que, às segundas-feiras, após 20h, dá isenção a clientes que apresentarem nota fiscal de algum restaurante do shopping. Procurado, o Shopping Leblon preferiu não se pronunciar.
Outras pedras no caminho dos passageiros
Os problemas encontrados por passageiros no Aeroporto Internacional Tom Jobim vão muito além do preço do estacionamento. Quem preferir deixar o carro em casa e optar pelo transporte público, seja o táxi ou o ônibus, também corre o risco de enfrentar turbulências em terra firme. As 32 mil pessoas que usam o aeroporto internacional diariamente convivem com poucas alternativas para deixar o terminal ou chegar aos saguões. O Galeão conta somente com uma companhia de ônibus executivo (frescão), que pertence à viação Real Premium e tem apenas duas linhas: uma para o Aeroporto Santos Dumont, via Linha Vermelha ou Avenida Brasil, e até o terminal rodoviário Alvorada, na Barra da Tijuca, pela Linha Amarela ou pela orla - esta última é o destino de mais de 60% dos turistas que chegam ao Rio. Além de escassos, os ônibus partem somente a cada meia hora do Terminal 1 e circulam no período de 5h30m às 23h30m.
Mais caros, os táxis também estão longe de ser a solução, tanto no Galeão como no Santos Dumont. Muitos não ligam o taxímetro e cobram corridas "no tiro". O piloto de uma companhia, que prefere não se identificar, enxerga no reajuste da mensalidade dos estacionamentos dos aeroportos uma decisão da Infraero de transferir para o usuário uma deficiência que poderia ser resolvida com investimento em infraestrutura: "Por que temos de pagar essa conta, em vez de a Infraero transformar as várias áreas ociosas do aeroporto Santos Dumont, por exemplo, em vagas de estacionamento? A resposta é muito simples: porque é muito mais fácil expulsar o mensalista a gastar com melhorias. Só não vamos ficar parados. Já há gente fazendo abaixo-assinado e procurando o Procon para tentar derrubar os aumentos abusivos", criticou o comandante.
Fonte: O Globo (RJ), 19 de outubro de 2011