Com perfil mais técnico que político, o secretário de 49 anos não usa motorista. Vai dirigindo de sua casa, em Moema, até o escritório. A cada viagem, ele repete seus mantras: requalificar o Centro e investir na descentralização da cidade. "São Paulo precisa ter diretrizes claras de longo prazo", diz. Algumas estarão no plano de metas SP 2040, tema da entrevista a seguir.
Época - São Paulo tem 11 milhões de habitantes e uma mancha urbana duas vezes maior que há 50 anos. Quais são os desafios para ordenar seu crescimento?
Bucalem - A cidade encontrou uma forma de se desenvolver, mas acabou ocupando áreas que não deveria, como várzeas, encostas e mananciais. Esse espraiamento, com muita moradia e pouco emprego nas regiões periféricas, cria uma dinâmica perversa, tanto para o cidadão, que perde cinco horas entre sua casa e o trabalho, quanto ambiental, em razão da queima de combustíveis. O desafio é reverter essa dinâmica, que aumenta a impermeabilidade do solo e sobrecarrega o sistema de transportes.
Época - Culpar a ocupação desordenada não atesta a falta de planejamento?
Bucalem - A cidade não conseguiu controlar seu crescimento. Não acho que por falta de planejamento, mas de implementação de planejamento, o que é diferente.
Época - A atual gestão tem um plano de "implementação de planejamento"?
Bucalem - Em dezembro, a prefeitura celebrou com a USP um acordo para a criação de um plano de metas para os próximos 30 anos, batizado de SP 2040. Ele definirá os projetos e as estratégias que vão ancorar o futuro da cidade.
Época - Quais serão as diretrizes?
Bucalem - Mobilidade, acessibilidade, desenvolvimento sustentável, oportunidade de negócios e equilíbrio social são os eixos do SP 2040. O desafio é tornar a cidade equivalente. Não importa a região, todo paulistano deve ter acesso a educação, saúde, lazer, cultura, emprego e qualidade ambiental.
Época - Que estratégias têm sido adotadas para garantir isso?
Bucalem - O primeiro passo é estimular a moradia em locais ricos em infraestrutura. Um exemplo é o projeto Nova Luz, que busca reocupar o Centro, onde temos muito emprego e poucos moradores.
Época - Há outros projetos para o Centro?
Bucalem - Estamos erguendo a Praça das Artes, no Anhangabaú, e lançaremos em breve um projeto de revitalização do Parque Dom Pedro, que ganhará um centro de compras e um estacionamento público próximos à Rua 25 de Março. A demolição do Viaduto Diário Popular e dos edifícios São Vito e Mercúrio vai favorecer a implantação de uma área pública que integrará o Mercado Municipal, o Espaço Catavento e o futuro Museu do Estado de São Paulo. Essa é uma região à qual converge gente de toda a cidade, principalmente da Zona Leste.
Época - E o que se prevê para a Zona Leste?
Bucalem - A região é estratégica. Terá um parque tecnológico, um fórum, novas escolas e faculdades técnicas, um Senai e a Operação Urbana Rio Verde-Jacu.
Fonte: revista Época São Paulo, 14 de março de 2011