Tão difícil quanto andar de carro é estacionar nas ruas de São Paulo. "Estacionar nas ruas não dá", diz uma motorista. "E nas regiões nas quais a gente mais precisa estacionar ou não tem estacionamento ou é muito caro", diz outro motorista.
Jardins, região Sul da capital paulista. Aqui, a placa não deixa dúvida: é proibido estacionar. As vagas que pertencem à Prefeitura custam R$ 3,00 a hora e estão todas ocupadas. Restam os estacionamentos particulares. Se o motorista decidir parar por poucos minutos aqui, vai pagar R$ 14,00 por até uma hora. Andando um pouco mais, a parada rápida pode sair por R$ 11,00. A variação de preços nos estacionamentos pode ser ainda maior de um bairro para outro, pode chegar a 400%.
O preço dos estacionamentos não para de aumentar. Entre janeiro e maio, a alta em São Paulo foi de 7,4%, mesma taxa de Curitiba. No Rio de Janeiro, no mesmo período, o estacionamento ficou 10,83% mais caro.
"Se a demanda sustenta o preço, se há gente que pague, então, o mercado vai se aproveitar dessa oportunidade e realizar lucro", afirma Antônio Evaldo Comune, economista da Fipe/USP.
E demanda é o que tem de sobra nesta típica família paulistana. "Somos em quatro e temos quatro carros", diz o chefe de família. Três carros ficam na garagem do prédio onde mora a família. O quarto veículo, que é da filha mais nova, teve de ir para o estacionamento. Durante o dia, ela também paga por uma vaga, próxima da faculdade. "Nos dois eu gasto R$ 360,00 ao mês. O meu salário é de R$ 652,00", conta.
Não há milagre. Para contornar o problema, o paulistano precisa mudar o jeito de viver, diz este urbanista. "Nós precisamos ter uma mudança de mentalidade. Os paulistanos precisam começar a adotar sistemas de transporte alternativo, até mesmo a bicicleta, para coisas no bairro, coisas menores, e o transporte público, o metrô, os ônibus, os corredores de ônibus, porque assim, pouco a pouco, vai se criando uma pressão sobre o governo estadual e municipal para melhoria desse sistema", afirma João Withaker.
A situação se repete na maioria das metrópoles brasileiras e, enquanto o transporte público não melhora, o carro é a opção.
Estacionamento caro nos grandes centros não é uma exclusividade do Brasil, é uma tendência no mundo inteiro. É uma tendência e a diferença que a gente precisa observar para as cidades do mundo que já colapsaram em função do elevado número de automóveis que não permitem a mobilidade urbana é que não apenas a elevação do estacionamento mas também a criação de pedágio urbano, a elevação do IPVA, todo esse constrangimento para evitar a proliferação de motoristas de transporte individual nas ruas tem uma finalidade interessante que é a canalização dos recursos para financiar transporte público de massa eficiente, barato e rápido. Então, o repertório de soluções é diferenciado, mas a gente repara que isso já está acontecendo em cidades como Londres, Paris, Nova York, Oslo, em Cingapura, e isso em São Paulo, como a reportagem mostrou, não é propriamente decorrente de uma política pública de transferência de receita daqui pra lá, de transporte individual para transporte público. Essa elevação escorchante do preço dos estacionamentos obedece à mais velha lei da economia, que é da oferta e da procura. O Brasil ainda se ressente da falta de uma política pública séria, bem construída, bem consolidada, de acelerar o passo na direção de um transporte digno, de massa, eficiente, barato e rápido.
Índice de aumento dos estacionamentos
Janeiro a maio
São Paulo 7,42%
Curitiba 7,44%
Rio de Janeiro 10,83%
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Fonte: Jornal das Dez, da GloboNews, 28 de junho de 2011