A forte valorização dos terrenos de estacionamentos ocorreu nos últimos três anos. Em 2008, uma reportagem da Gazeta do Povo mostrou que um estabelecimento de 2 mil m2 na Avenida Marechal Floriano Peixoto, também no Centro da capital, havia recebido uma proposta de R$ 1,7 milhão - na época, o metro quadrado estava na faixa de R$ 850, quase 25% do valor pago na negociação fechada recentemente na mesma região. Disputa
Apesar do alto valor pago, analistas do mercado imobiliário informam que as propostas podem ser muito maiores, variando de acordo com o potencial do terreno. "Como a oferta de terrenos está bastante reduzida, estes terrenos têm se valorizado cada vez mais. Por isso a disputa entre as construtoras está muito grande. Em terrenos mais nobres, já chegamos a pagar R$ 7,5 mil pelo metro quadrado", revela Guilherme Vialle, diretor de incorporações da VCG, que já adquiriu dois estacionamentos para construir edifícios comerciais e residenciais. Um dos empreendimentos da incorporadora, no bairro Batel, será um prédio residencial de dez andares com 18 apartamentos de 120 m2. O terreno, onde funcionava um antigo estacionamento, foi comprado há um ano e o preço do metro quadrado foi de R$ 2,5 mil.
Prédios comerciais
Atualmente o Centro de Curitiba tem 433 estacionamentos privados e a maioria deles apresenta alguma vantagem às incorporadoras. "Esses estabelecimentos têm um potencial muito bom de terreno disponível e geralmente estão muito bem localizados, próximos de áreas com grande fluxo de pessoas. Esses fatores são muito requisitados pelas construtoras", avalia Marcos Kahtalian, consultor do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR). Uma das principais razões para o avanço das construtoras sobre os estacionamentos é a baixa oferta de prédios comerciais em Curitiba. "Na cidade as salas comerciais estão em imóveis mais velhos, há poucos prédios novos para as salas comerciais. Hoje é possível ver conjuntos comerciais vazios, mas isso acontece porque são velhos. Os novos têm uma procura muito grande. Mesmo assim, o Centro ainda demanda novos lançamentos comerciais", analisa Luiz Valdir Nardelli, vice-presidente de Administração de Imóveis do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR).
Essa baixa oferta de empreendimentos, porém, tem hora para acabar, segundo Kahtalian. "No momento atual há poucos imóveis comerciais, mas as construções realizadas agora devem estabilizar o mercado em dois anos", salienta.
Deixar o carro no Centro já está mais caro
A diminuição de vagas em estacionamentos privados começa a dar sinais de que os motoristas que vão ao Centro de Curitiba devem encontrar preços cada vez mais salgados para deixar os seus carros. Na mesma quadra do estacionamento vendido por R$ 5,5 milhões, há outros três estabelecimentos que hoje cobram pela hora entre R$ 5 e R$ 7 - o dobro do cobrado há três anos, quando a média da primeira hora era de R$ 3, segundo o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado do Paraná (Sindepark-PR). O reajuste supera de longe a inflação oficial - segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta dos preços no mesmo período foi de 19,4%.
Apesar da alta nos últimos anos, os motoristas podem esperar preços ainda maiores no futuro. No caso do estacionamento vendido na região central, os concorrentes já sugerem um aumento do valor cobrado pela hora assim que a obra começar. "Quando (o estacionamento vendido) parar de funcionar, o preço (dos demais) vai subir com certeza", garante um funcionário.
Alternativas
Como a quantidade de vagas tende a diminuir e o valor deve aumentar, uma alternativa para o motorista que não quer se estressar procurando um estacionamento será deixar o carro em casa e procurar soluções alternativas. O movimento viria ao encontro das ações da Prefeitura de Curitiba, que planeja dar mais espaço para os pedestres na região central. A exemplo do Calçadão da XV de Novembro, há o projeto de transformação da Avenida Cândido de Abreu em um espaço destinado para os pedestres. "Esta é uma tendência em grandes cidades: o centro se torna um lugar para o pedestre, porque as construções tendem a se concentrar na região central. Os espaços para deixar os carros vão diminuindo e, com isso, as pessoas podem cada vez mais caminhar pelo centro", analisa Luciano Tomazini, um dos diretores da Rede Imóveis, associação que reúne 12 das principais imobiliárias de Curitiba. Em contrapartida, a quantidade de vagas do EstaR, sistema rotativo de estacionamento nas ruas da capital, tem aumentado ano a ano. Segundo a Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), em 2006 eram 6,8 mil vagas, enquanto neste ano são 10,4 mil. Há ainda outras 3,5 mil vagas para veículos não pagantes, como motos, táxis e ambulâncias.
Fonte: Gazeta do Povo (Curitiba-PR), 27 de junho de 2011