O número de acidentes nas rodovias brasileiras aumentou em 8% no Carnaval deste ano em relação ao de 2006, e o de mortes, 15%. Em contrapartida, nas estradas paulistas houve menos acidentes do que no ano passado.
Mas não há nada a comemorar. Independentemente do índice pontual em relação ao feriado, os acidentes envolvendo veículos e pedestres ainda estão muito longe de deixar de ser um problema em todos os estados e municípios brasileiros.
Enquanto os governos federal, estadual e municipal não investirem no tripé policiamento-engenharia-educação no trânsito, a realidade nacional no trânsito continuará a ser lamentável. Vejamos a situação de Campinas.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Transportes, só no primeiro semestre de 2006 ocorreram em Campinas 6.281 acidentes sem vítimas e 1.661 com vítimas. Além desses, houve 374 atropelamentos, com 49 vítimas fatais.
Ou seja, somando tudo vemos que só no primeiro semestre de 2006 (os números do segundo ainda não foram divulgados, mas infelizmente não devem ser muito diferentes), foram mais de 8 mil ocorrências. A esmagadora maioria delas poderia ser evitada se causadores e vítimas conhecessem melhor e, mais ainda, seguissem as regras de trânsito.
O número de acidentes com motos é um dos que mais cresce, pois muitos dos que pilotam suas possantes máquinas de duas rodas acham que podem passar em qualquer lugar, de qualquer jeito, e que sempre dá tempo.
Fora o fato de boa parte deles não usar capacete. É possível andar de moto com segurança, basta querer, e disso posso falar tranqüilamente, já que sou policial rodoviário reformado e ainda hoje ando pelas ruas de Campinas sobre as duas rodas de minha companheira inseparável. O motorista de carro e caminhão também tem sua parcela de culpa.
Ainda segundo os dados da Setransp, cinto no banco traseiro em Campinas é coisa rara, assim como respeitar a velocidade e a sinalização. Mais rara ainda é a conscientização do motorista de que não pode falar ao celular enquanto dirige. Muita gente faz isso e sempre acha que não tem problema, mas pense bem: quantas pessoas você já viu no trânsito que fazem uma curva sem olhar, esquecem de dar seta ou perdem momentaneamente o controle do carro porque estão com o celular colado na orelha?
Sem dúvida nenhuma, ainda temos muito a conquistar na Educação no Trânsito. Mas há outro problema, do qual poucos falam: a Educação no estacionamento. Na maioria absoluta dos estabelecimentos comerciais de Campinas, há vagas reservadas para deficientes físicos, idosos e gestantes. Pessoas que, por apresentarem condições físicas especiais, em caráter permanente ou não, precisam parar o veículo mais próximo de uma entrada.
No entanto, o que constantemente ocorre é que essas vagas acabam sendo ocupadas por pessoas em plena saúde, na flor da idade e que não esperam bebês... Recentemente, por exemplo, estive no Extra Abolição e vi quando um rapaz, perfeitamente saudável, parou sua caminhonete sobre não uma, mas duas vagas destinadas a pessoas deficientes. Cheguei a questionar o segurança do local a respeito, mas ele deu de ombros, dizendo que nada poderia fazer.
Não se trata de caso isolado, até porque recebi recentemente um e-mail do cidadão Renato Borges, dizendo-se indignado com essa situação, e relatando ter presenciado fato idêntico no mesmo local.
O senhor Borges diz ainda ter visto o mesmo problema nos shoppings Iguatemi, D. Pedro e no supermercado Pão de Açúcar da Avenida Alberto Sarmento. "Raro é o caso do Unimart, que coloca cones e seguranças para que liberem o acesso à vaga, garantindo seu uso correto", ressalta, dando aí uma boa sugestão aos demais.
Como vereador, posso analisar - e já estou fazendo isso - uma forma legal de garantir que as vagas para deficientes sejam respeitadas. Mas toda lei, mesmo que tenha grandes méritos, depende de fiscalização e de aceitação para que funcione. Por isso, independentemente de qualquer lei, faço aqui dois apelos.
O primeiro às administrações de shoppings, hipermercados e demais estabelecimentos que têm grandes estacionamentos. Sigam o exemplo do shopping Unimart: utilizem cones e tenham seguranças próximos a eles, orientados de modo a garantir as vagas para quem elas estão reservadas de fato.
O segundo é a todos os cidadãos de Campinas e região: vamos agir com mais cidadania, tenhamos mais respeito com o próximo, mais educação. Até mesmo porque, talvez você, que agora lê este apelo, não seja um deficiente e nunca venha a ser uma mulher grávida, mas, se Deus permitir, um dia você será um idoso ou uma idosa.
E, neste dia, você precisará daquela vaga mais próxima que alguém, de maneira desavergonhada, decidiu parar "só por uns minutinhos" ou "porque não tem tanto velho, grávida e deficiente assim na cidade".
Enquanto este dia não chega, porém, vamos colocar a mão na consciência e passar a dirigir - e a estacionar - com mais educação. Muita gente diz que a educação vem do berço. Mentira. Educação se aprende. Mas tem muita gente que a deixa no berço quando sai de casa. Não seja uma dessas pessoas. Educação é de graça e só traz benefícios para quem pratica. Use a sua.
Francisco Sellin (PSDB) é vereador de Campinas e exerce seu quarto mandato (2005-2008
Fonte: Correio Popular (São Paulo), 27 de fevereiro de 2007