A Companhia de Transportes Urbanos de Belém (Ctbel) declarou guerra aos motoristas que cometem infrações previstas pelo Código Nacional de Trânsito no centro comercial de Belém e começou, a partir de ontem, a guinchar veículos flagrados em locais proibidos para estacionamento.
Até o meio-dia, a equipe, formada por oito agentes, além de três guinchos, já tinha recolhido seis veículos, encaminhados para o pátio da instituição, na avenida Bernardo Sayão, no Jurunas, sendo que dois foram liberados no final da manhã.
À noite, a Assessoria de Imprensa da Ctbel informou que até as 16h foram removidos ao estacionamento da Ctbel, na avenida Bernardo Sayão, oito veículos, sendo quatro pela manhã e outros quatro à tarde. Trabalhando com dois guinchos em cada horário, a Companhia iria prolongar a operação até a meia-noite. Os veículos recolhidos só podem ser retirados da Ctbel no horário das 8h às 15 horas. Passado esse horário, somente no dia seguinte.
Segundo o inspetor responsável pela operação, Luiz Freitas, o endurecimento da Companhia, que antes limitava-se a multar os condutores, foi motivada pelo aumento no número de reclamações sobre a conduta dos mesmos na área central de Belém.
O primeiro ponto de fiscalização da equipe da Ctbel foi na Travessa São Francisco entre Avertano Rocha e João Diogo. No local, os agentes encontraram várias irregularidades, como uma picape estacionada muito perto da curva, situação que aumenta o risco de acidentes. "Estamos procurando atingir locais onde acontecem os maiores índices de reclamação sobre irregularidades registradas pelo nosso serviço 0800 (0800-911314), como veículos estacionados em local proibido, em fila dupla, na frente de parada de ônibus ou sobre a calçada, entre outros. Este ponto aqui, por exemplo, é uma área de segurança, porque fica próximo do Ministério Público, do Quartel do Exército, então os motoristas não têm permissão para estacionar", explicou Freitas, lembrando que o único caso em que não há remoção do veículo é o estacionamento na contramão da pista.
Se a Ctbel cumprir a risca a nova determinação, os agentes terão muito trabalho. Num simples giro pela cidade foi possível detectar pelo menos uma situação irregular em cada rua do centro de Belém. Na Travessa Padre Eutíquio, em frente a um curso de inglês, pelo menos cinco motoristas ignoraram a placa de "Proibido Estacionar".
Enquanto o guincho manobrava para retirar o primeiro carro, a maioria dos proprietários apareceu e retirou os carros da área. Eles escaparam do guincho, mas não da multa de R$ 127 pela infração ao artigo 181 do Código Nacional de Trânsito.
Este foi o caso da advogada Sebastiana Sampaio, que embora reconheça a infração, não concordou com a ação da Ctbel. "A gente não estaciona aqui. Parei rapidamente só para pagar o curso e sair", disse.
Para o inspetor Luiz Freitas, no entanto, a desculpa de que não tem lugar para estacionar ou de que a parada é rápida não convence. "Todo mundo quer vir e estacionar o veículo na porta do local para onde está indo. Na verdade, o que o motorista procura é comodidade e esquece que o veículo mal estacionado prejudica a circulação de outros carros e de pedestres".
Para quem teve o carro recolhido, o prejuízo foi ainda maior. Além da multa, o motorista terá que pagar mais R$ 100 referentes ao valor do serviço de guincho e outros R$ 50 para cada dia que o carro permanecer no pátio da Ctbel.
A microempresária Maria de Nazaré Barros chegou cinco minutos depois que seu carro havia sido levado pela operação. Assustada, ela afirmou que não viu a placa de sinalização que proibia a parada no local. "Não vi placa nenhuma, mas eu vim rapidamente pegar a minha filha no curso. Eu acho que se tivesse parado num lugar que não é apropriado tudo bem, mas no meu caso parei só por 10 minutos e aproveitei para comprar um óculos de natação para ela ali na frente. Nunca bati ninguém, sempre andei dentro da lei. Esta foi a primeira vez que saí do carro e acontece isso", lamentou.Segundo os agentes da Ctbel, a operação será, a partir de agora, permanente.
Flagrante de irregularidade na 15
A operação da Companhia de Transportes Urbanos de Belém (Ctbel) na área comercial de Belém reflete apenas uma das pontas do problema em que se transformou o sistema viário de Belém, que já contabiliza cerca de 380 mil veículos só na capital, sem contar aqueles que circulam na cidade vindos de outros municípios da Grande Belém, cuja frota chega a quase 500 mil carros.
Os motoristas reclamam que a maioria das ruas não oferecem condições para estacionamento e que a saída é descumprir a lei. Os inspetores da Ctbel, por sua vez, acusam os guardadores de carro de agir para piorar ainda mais a situação no centro. "A gente tem muito problema com flanelinha, em algumas áreas precisamos de apoio da Polícia para agir, porque muitos estão travestidos de guardadores para ter liberdade de realizar pequenos furtos", afirma Luiz Freitas.
Os profissionais que atuam nas ruas se defendem e dizem que os motoristas se arriscam nas áreas proibidas por conta própria. Mas na última sexta-feira, um guardador foi flagrado pela reportagem retirando uma das placas de sinalização da rua 15 de Novembro, uma das mais movimentadas de Belém. Ontem a equipe de O LIBERAL voltou ao local e constatou que o poste onde havia a sinalização foi serrado. Os agentes da Ctbel já foram notificados do caso e avisaram que será feita nova sinalização.
Os guardadores da 15 de Novembro são cadastrados pela Associação dos Lavadores e Reparadores de Carro de Belém, e negaram serem responsáveis pela retirada da placa, mas afirmaram que ela não devia estar mais lá há muito tempo. "O problema é que essa placa já era para ter saído porque o estacionamento da Oriental do Mercado passou para esse lado. Acho que foi a própria prefeitura que tirou a placa", afirmou Mário Lobato, um dos 20 guardadores que atuam na área.
Para ele, a cidade dispõe de lugares onde poderia ser liberado o estacionamento, o que falta é organização. "Tem muito lugar sim, basta a prefeitura querer. Multar e guinchar é muito fácil, mas carro parado não mata ninguém. O que falta é organização mesmo", comenta.
Fonte: O Liberal (Pará), 27 de fevereiro de 2007