O Lexus dirige a si mesmo pela rodovia sem precisar de alguém que o guie. O homem sentado no banco do motorista - Dmitri Dolgov, engenheiro de software do Google - nunca toca na direção. Sozinho, o carro faz muita coisa. Pode dirigir, acelerar e frear automaticamente; observar os arredores com câmeras e usar o radar para medir a distância do carro da frente; já seu scanner a laser - o cilindro preso no teto - monitora os objetos em todas as direções, explica O Estado.
"Está vendo?", pergunta Dolgov, apontando um carro que se desvia do veículo do Google pela direita. Não há necessidade de uma intervenção de Dolgov. O carro robótico identificou o que está acontecendo e freia devagar até que, mais uma vez, volta a se estabelecer uma distância adequada entre os dois veículos.
Com seus 12 carros, o Google tem a maior frota de teste conhecida de carros automáticos. Ao todo, a gigante da internet já percorreu mais de meio milhão de quilômetros nestes veículos, a maioria deles em rodovias da Califórnia. Os carros trafegaram por Los Angeles, ao redor do Lago Tahoe e pela famosa estrada de curvas estreitas Lombard Street, de San Francisco.
Os carros de direção automática, que eram considerados um sonho utópico, vão rapidamente chegando ao estágio em que estarão prontos para o mercado. "Não estamos falando para daqui a 20 anos, mas em cerca de cinco", diz Sebastian Thrun, criador e diretor do projeto.
Faltam cinco anos para os carros sem piloto chegarem às ruas? Parece mais uma ideia de ficção científica. Mas será possível que a companhia mostre dentro em breve à indústria automobilística como será o mundo futuro da mobilidade?
Montadoras
Na verdade, a autêntica surpresa aqui é algo diferente: tudo o que o Google consegue fazer, os fabricantes de automóveis fazem também - só que não falam abertamente a respeito. Em um projeto de pesquisa financiado pela União Europeia, a Volvo conduziu com sucesso um comboio de cinco veículos que tinham apenas um motorista de verdade no carro líder. Recentemente, a BMW enviou um carro robótico para um teste de duas horas de Munique para Nuremberg. E a Volkswagen e uma equipe de pesquisa da Universidade de Stanford provocaram frisson com seus carros esportes Audi sem motoristas.
Embora o Google não tenha o monopólio deste campo, sua posição de destaque permite que pressione outras companhias e demonstre a viabilidade da ideia. "A tecnologia necessária para carros autônomos já existe", diz Lothar Groesch, expert em tecnologia de segurança.
A questão é se esta ideia agradará ou não ao público. O maior medo dos fabricantes de automóveis é que este avanço tire a magia do automóvel, reduzindo o outrora todo-poderoso motorista a um mero passageiro.
Mas o fato é que este processo já está adiantado e vem ocorrendo há muito tempo. Começou há 20 anos com a introdução dos sistemas de Controle Eletrônico de Estabilidade (ESP), que aplicam o breque direcionado a cada roda de modo a impedir a derrapagem e garantir que os motoristas não percam o controle enquanto aceleram nas curvas.
Os carros de hoje têm sensores de radar e câmeras que reconhecem, por exemplo, situações em que pode ocorrer uma colisão caso o motorista não reaja a tempo. Estes carros tocam inicialmente um sinal de alerta, depois freiam totalmente, embora muitas vezes não a tempo para evitar que seja tarde demais - o veículo ainda bate no obstáculo, mas a uma velocidade menor. "O carro poderia fazer melhor, mas ainda não lhe é permitido", explica Groesch. "Faria muito mais sentido intervir mais cedo, sem dar o alerta. O alerta é uma perda de tempo."
Debate
É aí que os desenvolvedores de carros - e os legisladores - são obrigados a pensar em questões mais sérias. Será que a experiência na direção de um carro é algo que vale a pena preservar? Será que ele perde seu fascínio quando o motorista deixa de ter a liberdade de dirigir o seu automóvel e também de provocar acidentes com estes carros?
Nenhuma outra invenção na história da tecnologia civil causou tantos danos como o automóvel. A cada 30 segundos, uma pessoa morre num acidente de trânsito no mundo, o que representa mais de 1 milhão ao ano, e a Organização Mundial da Saúde calcula que este número poderá aumentar à medida que aumenta o número de pessoas que podem adquirir veículos. Além disso, o erro humano é a causa de quase todos os acidentes com carros.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 17 de fevereiro de 2013